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TMC I - Módulo 01

Rubi Rodrigues - 07/06/2022

Teoria do Conhecimento I – módulo 1

Segundo a Biologia, o Homo sapiens surgiu, na árvore da vida, como um broto divergente no ramo dos hominídeos os quais não se diferenciavam muito dos outros animais. O que nos diferenciou dos hominídeos foi a inteligência, foi uma consciência e uma capacidade intelectiva mais poderosa. Dado que a inteligência superior se manifesta como capacidade de discernimento, ela não é adquirida por herança genética nem é transmitida de pai para filho pelo código genético, mas precisa ser desenvolvida no curso da vida. Ora, isso significa que o bebê humano quando nasce, intelectivamente, não está muito distante do bebê hominídeo e apenas vai desenvolvendo a sua humanidade, na medida em que a sua mente desenvolver-se e atingir a inteligência própria do humano. Esse processo estará presente em todo o seu curso de vida.

Embora dotado de potencialidades distintivas, ao nascer, o homem opera essencialmente por instintos, em boa parte herdados da tradição hominídea, de sorte que a conquista da humanidade plena implica a superação de tais instintos. Como sabemos, nem todos conseguem pleno sucesso nisso, alguns ficam pelo caminho. Nesta série de vídeos, tentaremos configurar uma ferramenta racional e metódica que nos ajude a desenvolver plenamente a humanidade que, em potência, encontra-se dentro de todos nós, membros da espécie.

O homem não capta nem reproduz mentalmente a realidade, ele apenas a interpreta. Essa interpretação resulta da relação que o sujeito estabelece com o objeto. A ciência que tem por objeto de estudo essa relação chama-se Teoria do Conhecimento (TC). O conhecimento produzido na mente é fruto e produto dessa relação do sujeito com o objeto. Para esclarecer esse assunto, a TC precisa possuir concepção do que seja sujeito bem como concepção do que seja objeto ou, em termos lógicos e genéricos, do que seja A e do que seja B. Sem saber o que é A e o que é B, resulta logicamente impossível especular sobre qualquer relação entre eles. Se A é fogo e B é água, por exemplo, a relação é uma. Se A é fogo e B é papel, a relação, obviamente, é outra. Logo, uma TC que não especifica e não esclarece o que sejam sujeito e objeto, em sentido científico, não constitui uma verdadeira teoria. Em sentido científico, uma TC deve especificar o sujeito e o objeto e, ainda, esclarecer essa relação, formalizando um método de pensar que permita ao homem produzir interpretações confiáveis que correspondam à realidade. Como todos nós sabemos, o homem conduz-se na vida segundo a sua interpretação do mundo e das suas circunstâncias. Se a sua interpretação corresponde à realidade e ele age de acordo, ele se dá bem, no entanto, se a interpretação for equivocada, invariavelmente, ele dá-se mal.

Isso significa que é o ato de pensar que produz a interpretação e o conhecimento que permitem ao homem tomar atitudes adequadas no mundo. Se esse ato de pensar não está formalizado e não está precisamente descrito, o homem não dispõe de ferramenta que lhe permita avaliar se o conhecimento produzido está correto ou não, se ele corresponde ou não à realidade e aos fatos.

Quando o homem não possui uma TC que lhe conceda pleno domínio do ato de pensar e lhe indique em que medida o conhecimento produzido corresponde à realidade, apenas a intuição pode lhe indicar, de modo difuso, se o seu conhecimento é suficiente para o que pretende e se está correto ou não. O resultado inevitável é a dúvida. Nesse caso, ele tende a se basear ou acreditar na interpretação de outros, e isso torna-o presa fácil de dominação. Tal homem é considerado um “Maria vai com as outras”.

Existem dois modos básicos de superar isso e tornar-se mentalmente emancipado. O primeiro é o processo natural, de tentativas e erros de interpretar, que, com o tempo e a idade, acaba ensinando alguns a pensar melhor. O segundo é o estudo de Teoria do Conhecimento e o domínio de um método formal de pensar que sistematize o processo e torne-o menos aleatório e menos sujeito às nossas mudanças de humor. Nesta série de vídeos, pretendemos, paulatinamente, apresentar a teoria científica de conhecimento que conquistamos depois de meio século de pesquisas. Pensamos que o domínio pleno do ato de pensar representa passo decisivo no processo de amadurecimento pessoal e de realização das potencialidades humanas superiores, com as quais a natureza privilegia a espécie. Constituindo o assunto questões pessoais, o que vamos relatar apenas terá utilidade para quem sinta necessidade de entender melhor o mundo e as coisas, para quem não esteja satisfeito com a sua capacidade de julgar e almeje o seu próprio aperfeiçoamento como ser humano.

Cumpre advertir, entretanto, que você vai deparar-se com algo novo e inusitado que, como tal, deve parecer-lhe inicialmente estranho e incompreensível. Esse estranhamento constitui garantia de que se trata efetivamente de algo novo: só o velho pode parecer-lhe familiar. Com isso, adverte-se que a saída da caverna preconizada pela Academia não é fácil, requer coragem e determinação. Apesar disso, não se têm em vista aqui formar super-homens, apenas homens conscientes de si e do mundo, aptos ao uso metódico da razão.

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