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TMC I - Módulo 06

Rubi Rodrigues - 07/06/2022

Teoria do Conhecimento I – módulo 6

A Metafísica legada por Platão foi fruto do espírito matemático dos gregos clássicos. Para os gregos, as matemáticas contemplavam o cálculo, a geometria e a astronomia, esta na condição de ciência do movimento. Em termos modernos, diríamos Matemática, Geometria e Lógica. Nos seus principais aspectos, essa metafísica resultou de contribuições de Parmênides, de Pitágoras e de Platão. Curiosamente, de três pês.

Parmênides forneceu o alicerce, focando a existência e mostrando que a inexistência não existe. Parece óbvio, mas não é. O ser é e o não ser não é, ele afirmou, querendo dizer com isso que, entre eles, não há nem pode haver comércio, dado que o não ser não existe. Em decorrência, os surgimentos e os desaparecimentos que nos parecem intercâmbios da existência com a inexistência são, na verdade, mudanças ou movimentos no âmbito da existência. O conceito prático que nos lega Parmênides é o da inexistência de um nada absoluto, posto que, a partir de um absoluto nada, nada poderia advir.

Pitágoras, matemático por excelência, também tencionado pelos princípios, comprovou essa existência com dois princípios: o ilimitado e o limitante. Pitágoras percebeu que o ilimitado é absolutamente indeterminado e que a determinação apenas torna-se possível quando se impõe ao ilimitado um limite. Já discutimos isso quando verificamos que a instância de totalidade dos fenômenos precisa ser fechada em uma unidade, nos moldes da superfície da esfera. Apenas com o limite, a coisa fica determinada. Com essa solução, Pitágoras mostra que o limitado decorre do ilimitado, pela imposição de limites, e sanciona Parmênides, confirmando o status existencial de ambos. Hoje, na cultura cristã, indicar-se-ia o ilimitado por absoluto e o limitado por relativo. A Metafísica trata da emersão do ser no âmbito relativo.

Platão completou a concepção dessa Metafísica com três contribuições. Primeiro, destacou que o ilimitado não pode ter nem limites externos nem limites internos, assumindo nitidamente a perspectiva geométrica. Ora, em Geometria, apenas o ponto, definido regularmente como um lugar no espaço desprovido de dimensão, não possui limites internos nem limites externos. Com isso, Platão caracterizou o ilimitado como adimensional, como desprovido de dimensão. Em segunda contribuição, Platão designou o ilimitado de Uno, referindo-se ao caráter de indivisibilidade que, em Matemática, fornece o espírito e antecede a unidade quantitativa. Os números são limites determinantes em um contínuo quantificável ilimitado. O número um, fecundado pela indivisibilidade do Uno, não apenas inaugura a série dos números naturais como constitui o seu índice. Assim, Platão revelou a precedência ontológica do Uno – espírito em potência – sobre o 1 – número em ato –, em virtude da comunhão na indivisibilidade. Em terceiro lugar, Platão, saindo do âmbito da Matemática, generalizou essa passagem de potência para ato, de indeterminação para determinação, visando a contemplar toda a existência manifesta no mundo, e identificou essa unidade indivisível em ato, constatada na Matemática, como ser e unidade indivisível de todas as coisas, bem de acordo com o espírito matemático grego que entendia o universo como cosmos, construído pelos deuses segundo as matemáticas, razão pela qual entendiam que as matemáticas podiam explicar o universo.

Não dando para defender a existência da inexistência, não dando para recusar que apenas a imposição de limites permite a determinação, não dando para recusar que a falta de limites é privativa do adimensional, não dando para recusar a precedência ontológica do Uno sobre a unidade, não dando para recusar que o ser constitui índice indivisível de todas as coisas e admitindo-se que o universo seja um cosmos organizado que teve começo, essa metafísica grega clássica inscreve-se como promissora concepção explicativa dos fundamentos do mundo relativo ou limitado. Dado que a Geometria, a Lógica e a Matemática são fundamentos comuns tanto dessa Metafísica como da ciência, as desconfianças da ciência com respeito à Metafísica merecem ser superadas.

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