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A mão que salva - considerações metafísicas

Rubi Rodrigues - 11/08/2022

O estudo A mão que salva: um ensaio inútil, do eminente professor Dr. Manuel Curado, oferece-nos importante e rara crítica a respeito das ideias platônicas registradas nos diálogos. Essa crítica refere-se a soluções organizativas e de convivência social que, virtualmente, estariam presentes em futura sociedade ideal, gerida pelos mais sábios dos cidadãos, os quais Platão designou de reis filósofos. Sabiamente, o professor não critica os três pilares da concepção filosófica de Platão – representados pela sua teoria das ideias, pela sua teoria dos princípios e pela sua perspectiva metafísica –, mas, também sabiamente, identifica limitações inferenciais de Platão, ao pretender antever soluções de organização social provavelmente presentes em padrão civilizatório baseado na prevalência de um pensamento focado na totalidade, que, caso se efetive, apenas poderá ocorrer como sucedâneo do contemporâneo padrão social dito Pós-Moderno. Platão vivia no Período Imperial, razão pela qual não contava com as experiências vivenciais da Idade Média, da Modernidade e da Pós-Modernidade, as quais nos instrumentalizam hoje. A sua teoria dos princípios mostra-nos que o estágio superior do pensamento humano e o correspondente modo de ser e de viver apenas se tornam possíveis pela vivência prévia dos períodos civilizatórios mencionados, todos indispensáveis para possibilitar o domínio, pela espécie humana, dos quatro correspondentes modos de pensar, que precedem e potencializam o olhar superior focado no todo. Considerando que nós, homens pós-modernos, situados à véspera da mudança, sentimo-nos desamparados para especular sobre virtuais soluções organizativas que a sociedade irá adotar no período civilizatório subsequente, resulta compreensível que alguém, situado lá atrás, no Período Imperial, tenha cometido equívocos e impropriedades, ainda que se trate de uma mente brilhante como a de Platão. Pensamos, até mesmo, que o mestre de Atenas se deu conta da impossibilidade de avançar na normatização dessa sociedade futura, propósito que o levou a iniciar a obra As leis, que tem sido considerada incompleta, uma vez que foi concluída por um discípulo. Os registros existentes sobre dificuldades de um legislador antever as necessidades legislativas da sociedade, em futuro social sujeito ao imponderável, potencializam a tese de que o citado diálogo possa tratar-se de obra, em alguma medida, abandonada e não, exatamente, de obra inacabada. De qualquer forma, o estudo do professor Curado tem o mérito de demarcar limites inferenciais enfrentados por Platão. A par disso, permite evidenciar limitações que a perspectiva hermenêutica, hoje predominante, enfrenta na condição de método de estudo dos textos platônicos; limites esses que o próprio professor denuncia, apesar de usar a hermenêutica com maestria, no ensaio – em combinação com a dialética – e, assim, revelar inusitadas contraposições presentes na descrição platônica do mito da caverna, que delimita o âmbito do trabalho. Nesse sentido, as considerações que ora se oferecem a respeito dos questionamentos da alegoria evidenciam diferenças interpretativas que decorrem da opção entre as abordagens hermenêutica e metafísica. Por essa razão, apresentamos, a seguir, as considerações metafísicas encaminhadas ao professor Curado, de sorte que os estudantes da Academia Platônica de Brasília possam comparar os textos, perceber as diferenças interpretativas e tirar conclusões próprias.

Ver as considerações metafísicas oferecidas ao ensaio do professor Dr. Manuel Curado

 

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