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Cap. 1 – Introdução: o Projeto

Rodrigues, Rubi - 01/08/2011

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO: O PROJETO

Será possível intervir, intencional e racionalmente, no destino da humanidade? Será possível, por decisão consciente e ação consequente, mudar o rumo do processo civilizatório? Supondo disponíveis lucidez, discernimento e conhecimentos localizados suficientes à concepção teórica de um modelo civilizatório alternativo, capaz de descortinar um futuro mais promissor para a humanidade, será possível converter essa concepção teórica em um projeto prático de ação e promover propositadamente a mudança do nosso modelo de civilização?

Tivéssemos permanecido no pastoreio indolente que embalou a espécie antes do despertar da consciência, ou tivesse a natureza nos negado o livre arbítrio, poderíamos invocar uma teoria do caos ou uma concepção fatalista de destino, dar resposta negativa a essas perguntas e, comodamente, esperar que os dados jogados pela providência nos concedessem a graça de sobreviver ou, então, resignadamente, poderíamos dar vazão aos nossos instintos e desfrutar do tempo que nos resta, tomando, naturalmente, o cuidado de não gerar descendentes. Dado, porém, que a história factual se deu de forma distinta e tendo em vista o tratamento regular que a natureza tem dispensado às espécies que entraram em becos existenciais sem saída, parece-nos prudente apostar em respostas positivas e investir na busca de equação que seja capaz de solucionar o problema. Uma espécie dotada de livre arbítrio que, apesar de viver em meio a uma natureza regular, revele-se incapaz de traçar para si um destino conveniente certamente não merece sobreviver. Não por uma questão ética, mas por uma questão estrutural de uma lei natural que não pode dispensar a mais rigorosa e precisa coerência interna.

Arquimedes, que nos legou a lição da alavanca, garante-nos ser teoricamente possível movimentar o mundo, desde que consigamos um ponto de apoio adequado. O caso em questão não se afigura como simples questão de mecânica, mas a ideia de usar uma ferramenta parece adequada e nos lembra do conceito de paradigma proposto por Thomas S. Kuhn, nos idos de 1962. Kuhn mostrou que a evolução histórica do pensamento científico se deu em virtude do reiterado advento de novos paradigmas científicos. O exame das percepções de Kuhn nos despertou o seguinte questionamento: poderá, por ventura, o conceito de paradigma científico ser ampliado e fundar um conceito de paradigma civilizatório, munido de potencialidades capazes de conferir-lhe o mesmo papel diretor no plano geral da civilização e servir de alavanca no caso que, aqui, estamos considerando?

Estudamos os paradigmas científicos de Kuhn e chegamos à conclusão de que o conceito de paradigma civilizatório nos permite explicar e descrever, com precisão e economia, o modelo civilizatório vigente, atualmente, no mundo ocidental e que, grosso modo, predomina no planeta. Essa mesma propriedade do conceito permite também caracterizar e descrever o modelo civilizatório alternativo implícito em um paradigma de compleição distinta. Isso porque, nesse estudo, paradigma civilizatório emergiu como princípio orientador, estruturador e modelador de um sistema teórico, que, usado coletivamente, alicerça, sustenta e produz naturalmente um padrão civilizatório.

Admitindo que o conceito de paradigma civilizatório contemple tais propriedades, caso sejamos capazes de conceber um paradigma que privilegie as melhores virtudes e potencialidades do projeto humano e, por consequência, desvalorize e iniba os vícios e os instintos que herdamos da nossa animalidade ancestral e que já não se coadunam com uma condição superior em complexidade organizativa, tipicamente humana, estaremos aptos a vislumbrar, com antecedência, o modelo civilizatório potencializado e decidir, racionalmente, sobre a sua conveniência, tendo naturalmente em vista os custos sociais envolvidos em sua implantação.

Tendo o conceito de paradigma civilizatório como hipótese de partida e considerando a proposta de logos normativo publicada em Brasília (RODRIGUES, 1999, 2011, 2016) – modelo postulado formalmente como paradigma universal, conforme as mais recentes exigências explicativas que emergiram com a ciência moderna – quer nos parecer que estão presentes razões teóricas suficientes para ensejar um estudo criterioso da questão e um esforço intelectual, visando a verificar as reais possibilidades de se encontrar uma solução positiva.

Tendo essas considerações como ponto de partida, vimo-nos na contingência de mapear a questão e identificar os diferentes aspectos que precisariam ser estudados e especificados para que se logre construir uma tese consistente e convincente sobre as possibilidades de uma intervenção racional e consequente no curso civilizatório da humanidade. A solução organizativa a que chegamos configura o sumário desta obra que, em seu conjunto, contempla concepção estratégica que se oferece a todos na intenção de demonstrar ser teoricamente possível intervir racional e conscientemente nos rumos da história, ao menos quando se entender impostergável corrigir o rumo das coisas e viabilizar um horizonte de sobrevivência mais promissor para a espécie.

Comentário

Luiz Carlos Sanchez dos Santos disse:

3/10/2011, às 18h38

Sim, é possível intervir racional e intencionalmente, para concepção e construção de um novo modelo civilizatório, mas teria de ser absorvido da humanidade, dos mais fortes, racionalmente falando. Seria como ocorre na natureza animal, onde só os mais preparados, os mais saudáveis, sobrevivem.

Não tomem esse comentário por preconceituoso, desumano; exemplifico: para o controle, a condução, a preparação de outrem, seria necessário um ser qualificado, formado e com conhecimento de causa, na área a que lhe foi designada, a fim de guiar e de preparar aqueles sob seu comando

De nada adiantaria por nomeação de cargo, por interesses, colocar um indivíduo despreparado, não formado na disciplina ou posto onde seres aguardassem seus ensinamentos ou comandos para se dar início efetivamente a um novo modelo de sociedade a que se pretende sem vícios.

É necessário, sim, uma seleção, sem demagogia ou protecionismo, onde só os mais preparados alcancem postos de comando, a fim de conduzirem a humanidade em um novo rumo. Iniciar-se-ia por uma conscientização coletiva paulatinamente, com demonstração de fatos que mostrassem a eficácia e a necessidade para a efetiva valorização do ser, e não do ter, o que garantiria a sobrevivência da raça humana e, futuramente, até do planeta.

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