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Cap. 6 – O poder heurístico do Logos

Rodrigues, Rubi - 01/08/2011

CAPÍTULO 6 – O PODER HEURÍSTICO DO LOGOS

Demonstração do poder heurístico do modelo do logos normativo da racionalidade. – Objetivo: dar credibilidade ao modelo.

O modelo dimensional do campo existencial desafia o paradigma científico vigente, tem implicações epistemológicas devastadoras – que não serão tratadas, aqui, porque já foram contempladas na publicação de 2011 – e, em sentido objetivo, pretende tanto resolver algumas perplexidades que emergiram dos estudos quânticos do século XX quanto preservar as principais conquistas da relatividade especial e da mecânica quântica, viabilizando solução alternativa àquelas descortinadas pelo teorema de Bell, segundo o qual seria inevitável o fracasso de, pelo menos, uma das seguintes teses fundamentais da Física: a mecânica quântica, a objetividade ou a localidade.

Embora nos sintamos desconfortáveis para tratar de uma ciência complexa como a Física, tão distante de nossa formação básica, julgamos que os físicos são, hoje, os detentores da credibilidade humana, de sorte a pensarmos que apenas eles têm prestígio para viabilizar uma evolução de paradigma. Por isso, apesar do desconforto, vamos registrar algumas percepções nessa ceara, esperando que seja levado em conta que nossa habilitação é relativa ao modelo interpretativo e não à Física Quântica.

Consideremos primeiro o efeito ERP – paradoxo de Einstein-Podolsky-Rosen – que ensejou a conclusão de que o mundo quântico era não local.

Em um universo dotado de cinco instâncias dimensionais distintas, a presença da matéria, da energia corpuscular, da luz – como partícula – e do próprio espaço cósmico são ocorrências restritas à terceira dimensão. São manifestações do ser que apenas surgem na terceira dimensão, não estando presentes nem antes nem depois disso. Trata-se, portanto, não apenas, mas também, justamente, do modo tridimensional de manifestação do ser. Nessa instância, a relatividade especial informa vigorar a limitação da velocidade da luz e, quanto a isso, o modelo do logos nada tem a contestar.

Nesse modelo, a conformação da matéria, ou a organização da energia na densidade que denominamos de matéria, é determinada pela estrutura presente na segunda dimensão, e duas partículas que tenham sido reunidas fisicamente e tenham se ajustado como par devem ter se harmonizado em todas as instâncias, dado que existe sintonia de padrão de movimento, instância por instância, e que a instância mais complexa tem determinantes nas instâncias mais simples. No caso, na terceira dimensão, essa sintonia se expressa na complementaridade do spin, mas, como a situação na terceira dimensão decorre da estrutura determinante presente na segunda, parece justo entender que suas estruturas necessariamente também se ajustaram. Quando essas partículas são fisicamente afastadas, não parece existir razão para que suas estruturas se alterem e percam a sintonia estabelecida, de sorte que, independentemente da distância que separem suas instâncias materiais, a sintonia estrutural permanece ativa. Assim, quando a direção do spin de uma das partículas é forçada a mudar de sentido, isso apenas torna-se possível mudando de forma correspondente a estrutura da partícula. Com isso, fica compreensível que a outra partícula se ajuste instantaneamente sem qualquer comunicação no âmbito tridimensional.

Na medida em que matéria constitui ocorrência inerente à instância de três dimensões e a Física Quântica visa a um mundo anterior ao plano de complexidade organizativa correspondente aos átomos, segundo o modelo do logos normativo, os objetos da Física Quântica constituem ocorrências integrantes da terceira dimensão, quando eles se apresentam na forma de partículas, mas podem também ser elementos de duas dimensões, quando na forma de ondas. Segundo o modelo, o que antecede a partícula é a onda.

O modelo indica que a segunda dimensão é reduto da simetria e que nela ainda não existem espaço nem tempo, que são ocorrências que apenas vão surgir, respectivamente, na terceira e na quarta dimensões. Portanto, não se deve estranhar que, ali, não vigorem as leis que são regulares no espaço e no tempo. Tanto na primeira quanto na segunda dimensão, estão presentes certas amplitudes próprias de cada uma das instâncias, mas essas amplitudes também não podem ser confundidas com o espaço que somente está presente na terceira. Da mesma forma, a ideia de simetria pressupõe simultaneidade que remete à ideia de tempo, tanto quanto o ato transcendental que inaugura a primeira dimensão invoca psicologicamente um tempo que se inaugura e uma diferença do absoluto para o relativo. É evidente, porém, que nem diferença está presente na primeira dimensão, pois somente surge na segunda, e em nenhuma delas, nem mesmo na terceira, o tempo realmente se faz presente, uma vez que ele surge apenas na quarta dimensão. Esses fenômenos indicam que, de algum modo, tudo já está presente nas instâncias inferiores de um modo virtual, muito antes de se tornar efetivamente real, deixando evidente o que uma estrutura orientada para a complexidade supõe: que tudo o que vai se revelar nas instâncias mais complexas, de alguma forma potencial, precisa já estar presente no ser unidimensional que inaugura a existência.

Embora esse ambiente quântico nos seja desconhecido, o modelo sanciona a ideia de a Mecânica Quântica ser não local, ao menos quando ela extrapola a terceira dimensão e mergulha nas instâncias mais elementares da existência. Apesar disso, o modelo dimensional de realidade dispensa que se recorra à figura de universos paralelos para justificar essa não localidade. O universo dimensionalmente concebido admite tanto a objetividade quanto a localidade e recepciona também, sem problemas, o efeito ERP. Já quanto a Física Quântica, sequer nos arriscamos a palpitar sobre o que acontecerá com a virtual inclusão do conceito de transcendência, conforme definido no capítulo anterior. O que nos parece claro é a elegância com que o conceito de transcendência explica a sucessão de estágios no caminho da complexidade e a emergência, em cada um deles, de propriedades privativas inusitadas. Não conseguimos imaginar como esse efeito poderia ser explicado sem o concurso de um salto transcendental da parte para o todo, o que nos leva a especular se essa questão não teria possivelmente passado despercebida até agora.

Quanto à localização das quatro interações elementares encontradas na natureza – interações forte e fraca, eletromagnética e gravitacional –, o modelo do logos indica não quatro, mas cinco instâncias diferenciadas em amplitude, que abrigam cinco padrões de movimento diferentes entre si, que desempenham papel normativo determinando padrões existenciais e, portanto, modos de interação. A pergunta imediata suscitada pelo modelo diz respeito à existência de alguma relação entre essas cinco instâncias e as quatro interações conhecidas e se existe alguma relação entre padrão de movimento e tipo de força.

Sabemos que as interações forte e fraca são interiores aos átomos e, em assim sendo, são pré-materiais no caminho da complexidade ou, ao menos, são situadas no limiar inferior onde a matéria surge. O modelo do logos preconiza duas instâncias pré-materiais: a primeira e a segunda dimensões, mas está além do nosso conhecimento indicar os efeitos e as consequências disso na Física e na Mecânica Quântica.

A interação eletromagnética parece operar no espaço e, consequentemente, deve pertencer à terceira dimensão, da mesma forma que a ação gravitacional parece operar de forma semelhante à relação dialética própria da quarta dimensão, como evidencia o movimento orbital dos planetas.

O modelo ainda preconiza uma quinta instância correspondente à totalidade fenomênica, na qual predomina um movimento de padrão complementar diferente dos outros quatro padrões que são dicotômicos. Também se encontra além das nossas possibilidades questionar uma eventual quinta interação, embora tenhamos notícias sobre uma misteriosa energia escura envolvendo as galáxias e percebamos que a instância de totalidade estabiliza os fenômenos na existência, preservando a unidade do ente.

A esperança de que virtualmente o modelo do logos normativo pudesse nos aproximar da tão almejada teoria de campo unificado surgiu com a leitura da obra Mundos paralelos, de Michio Kaku, publicada, no Brasil, em 2007. Na ocasião, realizamos estudo criterioso desse trabalho, adotando a sistemática de que nos valemos em todos os nossos estudos, a qual consiste em extrair um extrato das principais ideias e, depois, realizar uma apreciação crítica amparada pelo logos. Inicialmente, o autor nos pareceu ser um físico não ortodoxo, ativo na comunidade internacional, que encerrava o livro produzindo algo, a nosso ver, muito próximo de ficção científica. Traçava, porém, em linhas muito claras, o percurso evolutivo recente da ciência física e descrevia, com riqueza de detalhes, o estado da arte em 2005, indicando tanto as descobertas feitas e os conceitos predominantes quanto as ferramentas utilizadas e, ainda, o horizonte de pesquisa descortinado. Nesse contexto, destacava, como principal carência da Física, uma teoria unificadora capaz de harmonizar as exigências da relatividade geral com as exigências da Física Quântica. Chamava isso de “teoria de tudo”, razão pela qual fixamos, como nosso objetivo naquele estudo, compreender como a comunidade de físicos contextualizava essa carência e verificar em que medida o nosso modelo do logos poderia contribuir para esclarecer a questão.

No começo dos estudos, impressionou-nos o fato de o professor Kaku indicar que a comunidade científica internacional esperava que o paradigma capaz de acomodar harmoniosamente todas as forças fundamentais que movem o universo deveria constituir um modelo único, dotado de extrema simplicidade. Ora, a extrema simplicidade do modelo do logos tinha sido, no começo, justamente o principal motivo de nossas apreensões e desconfianças quando ainda não estávamos completamente convencidos pelo modelo, de sorte que essa indicação era alvissareira.

Nos detalhes, constatamos que, embora não existisse ainda solução consistente para o problema, já tinham sido identificados muitos atributos que o virtual modelo-solução deveria atender, para ser considerado um candidato sério ao posto. No texto desenvolvido pelo professor Kaku, conseguimos identificar dezessete aspectos ou requisitos admitidos ou defendidos pela Física ou pelo autor, que são recepcionados ou atendidos com precisão pelo modelo do logos. Dado que foi essa coincidência que gerou a nossa esperança de que, possivelmente, o modelo dimensional de universo pudesse, se não resolver, ao menos nos aproximar da teoria de campo unificado, enumeramos, a seguir, em dezessete notas, essas coincidências, indicando também os textos nos quais o professor Kaku menciona ou explicita os requisitos.

Nota 1, p. 28: “No campo teórico, o WMAP também propiciou avanços: Até agora, a principal teoria é a do ‘universo inflacionário’, um importante aprimoramento da teoria do Big Bang [...]. No cenário inflacionário, no primeiro trilionésimo de trilionésimo de segundo, uma misteriosa força de antigravidade fez o universo se expandir muito mais rápido do que originalmente se pensava. O período inflacionário foi inconcebivelmente explosivo, com o universo expandindo muito mais rápido do que a velocidade da luz”.

  1. A força de antigravidade que fez o universo se expandir de modo inflacionário encontra seu correspondente no impulso para a complexidade que, na estrutura do logos, responde pelo desdobramento das dimensões até o modelo atingir a sua completude na instância de totalidade. O modelo do logos defende que, na existência, todos os fenômenos surgem na primeira dimensão e vão desdobrando as demais instâncias, até conquistarem completude e estabilidade. Dado que apenas na terceira dimensão surge o espaço no qual vigora a limitação da velocidade da luz, o modelo não apenas recepciona, mas também sanciona esse estágio inicial inflacionário detectado pelos astrônomos.

Nota 2, p. 32: “A teoria das cordas e a teoria M baseiam-se na simples e elegante ideia de que a estonteante variedade de partículas subatômicas que compõem o universo seja semelhante a notas (musicais) que se pode extrair de uma corda de violino, ou de uma membrana, como o couro de um tambor. (Estas não são cordas e membranas comuns; elas existem num espaço com dez e onze dimensões.)”.

  1. A ideia de que a origem de tudo refere-se a vibrações e a ressonâncias similares àquelas que produzem as notas musicais encontra amparo no modelo do logos normativo, na medida em que ele defende que a existência, no universo, realiza-se segundo os padrões de movimento presentes no interior de cada uma das cinco instâncias constituintes do modelo. Nesse modelo, tais padrões de movimento tipificam as lógicas possíveis e configuram cinco leis universais básicas. Visto que cada âmbito dimensional do logos contempla um padrão privativo de movimento que, em sua ação normativa, determina um padrão existencial, parece coerente esperar que tais padrões de movimento impliquem padrões vibratórios diferenciados bem de acordo com o preconizado na teoria das cordas.

Nota 3, p. 87: “Depois de 2 mil anos investigando a natureza da matéria e da energia, os físicos determinam que apenas quatro forças fundamentais movem o universo. (Os cientistas buscam uma quinta força, mas até agora os resultados foram negativos ou inconclusivos.)”.

  1. Essa busca por uma quinta força ainda não localizada pode encontrar, no modelo do logos normativo, novas pistas. O modelo preconiza cinco leis universais básicas, quatro dicotômicas e uma de padrão complementar, esta última correspondente à instância de totalidade do fenômeno. Dado que essa instância apenas é atingida mediante um salto transcendental entre as partes e o todo, pode ser que a localização dessa quinta força exija um procedimento semelhante. De qualquer forma, o modelo sanciona essa expectativa por uma quinta força.

Nota 4, p. 91: “Por sua vez, este programa de unificação introduziu um novo paradigma na cosmologia. A ideia era simples e elegante; no momento do Big Bang, todas as quatro forças fundamentais se unificaram numa única força coerente, uma misteriosa superforça. Todas as quatro forças tinham a mesma intensidade e faziam parte de um todo coerente maior. O universo começou em um estado de perfeição. Entretanto, à medida que o universo começou a se expandir e esfriar rapidamente, a superforça original começou a rachar, com diferentes forças separando-se uma após outra”.

  1. Essa ideia de que, no momento do Big Bang, as quatro forças fundamentais estariam unidas numa única força coerente, uma misteriosa superforça, encontra também amparo no modelo do logos normativo, que admite também que as diferentes lógicas/leis sejam resultantes de um único impulso para a complexidade que, uma vez manifesto, assume padrão diferente, de acordo com as amplitudes das diferentes instâncias dimensionais que o fenômeno desdobra ao constituir seu âmbito existencial. Nesse modelo, o universo, apesar de representar o fenômeno inaugural, constitui apenas um fenômeno como os demais, cuja existência naturalmente obedece às mesmas leis que regem todo o restante. Assim, também o universo é transpassado por um impulso para a complexidade que, no início, era uma só força embora, hoje, tenha seus desdobramentos.

Nota 5, p. 91: “A chave, portanto, é compreender exatamente como estas transições de fase ocorreram no início do universo, que os físicos chamam de quebra espontânea”.

  1. A quebra espontânea detectada pelos físicos no início do universo encontra amparo no modelo do logos em dois sentidos. Por um lado, o modelo contempla, no início de tudo, um salto transcendental, e a lógica transcendental, que explica o advento dos fenômenos na realidade, não supõe nem exige uma causa. De outro lado, o desdobramento reiterado de dimensões para disponibilizar amplitude capaz de abrigar a complexidade universal manifesta implica reiteradas “quebras” de instâncias geométricas para dar lugar a amplitudes maiores. Portanto, esse detalhe também é bem recepcionado pelo modelo.

Nota 6, p. 109: “Antes de 10-43 segundos – era Planck. Na energia de Planck (1.019 bilhões de eletro-volts), a força gravitacional era tão forte quanto as outras forças quânticas. Por conseguinte, é provável que as quatro forças do universo estivessem unificadas numa única superforça”.

“Talvez o universo existisse numa fase perfeita de nada, ou espaço vazio de dimensão superior.”

“Por razões desconhecidas, esta misteriosa supersimetria que unificava as quatro forças rompeu-se, formando minúscula bolha [...].”

  1. Essa especulação da Física, pensando que, no início, talvez, o universo existisse numa fase perfeita de nada, ou espaço vazio de dimensão superior, também é recepcionada, em termos, pelo modelo. O logos nos diz que toda a existência relativa tem origem em uma existência de feição absoluta. Situa essa existência absoluta em uma instância de amplitude adimensional, que é a única amplitude geométrica capaz de recepcionar atributos absolutos. Em consequência, revela que tal existência, justamente para ser absoluta, precisa, presumivelmente, ser apenas potencial. Com isso, temos uma descrição mais consistente desse berçário do mundo e evitamos o contrassenso de falar em espaço vazio de dimensão superior.

Nota 7, p. 188: “Havia dois tipos de inconsistência matemática. O primeiro era o problema dos infinitos [...]. Quando a gravitação é transformada numa teoria quântica, essas flutuações quânticas na verdade se tornam infinitas, o que é um absurdo”.

  1. A inconsistência matemática da teoria das cordas que contempla a questão dos infinitos está baseada na constatação de que, quando a gravitação é convertida em teoria quântica, as flutuações quânticas se tornam infinitas, o que resulta ser absurdo, tendo em vista que um relativo (flutuação) seria infinito (absoluto). O modelo do logos demonstra a presença, na realidade, de diferentes graus de infinidade e conclui que isso exige uma matemática correspondente que aparentemente ainda não foi inventada. De todas as formas, se a teoria das cordas acusa uma inconsistência matemática, o logos contempla a mesma questão e sugere a possibilidade de estarmos diante de insuficiência matemática: falta uma matemática que contemple múltiplos graus de infinidade.

Nota 8, p. 188: “Einstein acreditava que talvez Deus não tivesse outra opção ao criar o universo. Uma razão para isso poderia ser que apenas uma única teoria está livre de todas essas inconsistências matemáticas”.

  1. O que Einstein, aqui, defende é que, sendo o caso de existir solução para uma teoria unificada, ela deve ser única. Isso significa que o virtual modelo-solução deve constituir linguagem inescapável, como pensamos ser o caso do modelo do logos normativo. Um universo organizado, tal como um conjunto, exige um índice.

Nota 9, p. 192: “A música é a metáfora por meio da qual podemos compreender a natureza do universo, no nível subatômico e no nível cósmico”.

  1. A teoria das cordas afirma que as harmonias das cordas constituem as leis da Física. O logos defende que os padrões de movimento que caracterizam as cinco lógicas estão presentes em toda a natureza e regulam a manifestação existencial de todos os fenômenos. Segundo o modelo do logos, todos os fenômenos apresentam a mesma estrutura existencial, quer se trate de uma partícula atômica ou de um sistema solar.

Nota 10, p. 195: “[...] uma teoria baseada num objeto estendido (corda) evita muitas das divergências associadas com partículas pontuais”.

  1. A teoria das cordas, baseada num objeto estendido (corda), supera a ideia de partículas pontuais, o que, em certo sentido, compromete também a ideia de matéria. O modelo do logos sanciona essa percepção, no sentido de preconizar quatro instâncias não materiais presentes e integrantes de todo fenômeno. A extensão do existente para além da instância material não se faz, entretanto, jogando-nos em um ambiente imponderável ou místico. Ao contrário, o logos normativo nos descortina quatro instâncias não materiais, perfeitamente caracterizadas, plenamente integradas e hierarquizadas em um todo dotado de coerência e perfeita simetria e nos instrumentaliza com recursos para distinguir o que pertence a cada instância, fornecendo inclusive a lógica adequada para se pensar cada conteúdo. Observe-se que substituir partícula material por objeto estendido também material pode, virtualmente, não mudar nada além da nossa percepção, enquanto pensar que objeto estendido configura uma onda, bidimensional, representa uma mudança efetiva no objeto analisado. Operação noética, no primeiro caso, e fato eidético, no segundo.

Nota 11, p. 197: “Visto que as simetrias são uma das mais belas e eficientes ferramentas à nossa disposição, pode-se esperar que a teoria do universo tenha de possuir a mais elegante e eficiente simetria conhecida na ciência”.

  1. O logos considera que a simetria representa o elemento predominante da estrutura de qualquer fenômeno. Segundo o logos, a diversidade manifesta torna-se possível e se instala sob o domínio da simetria oferecida pela segunda dimensão, de sorte que a visão estrutural do logos descrita na forma de geometria dimensional evidencia na perfeita integração das suas partes, a harmonia perfeita do conjunto.

Nota 12, p. 206: “[...] a teoria M, que era finita – era na verdade a teoria das cordas reformulada na décima primeira dimensão em termos de membranas”.

  1. O modelo do logos também constitui um modelo finito e sugere um universo também finito, muito embora contemple amplitudes infinitas e até mesmo diferentes graus de infinidade. Apesar de o modelo indicar isso, não temos ideia sobre as implicações matemáticas envolvidas.

Nota 13, p. 207: “Uma das novidades da teoria M é que ela introduz não somente cordas, mas todo um zoológico de membranas de diferentes dimensões”.

“Neste quadro, as partículas pontuais são chamadas de zero-brana, porque são infinitamente pequenas e não tem dimensão.”

“Uma corda é então uma uma-brana, porque é um objeto unidimensional.”

“Uma membrana é uma duas-brana…, definida pelo seu comprimento e largura.”

“Nosso universo poderia ser algum tipo de três-branas, um objeto tridimensional.”

  1. O modelo do logos também identifica e distingue ocorrências próprias nas cinco instâncias dimensionais que contempla, identificando, em cada uma delas, movimentos típicos e privativos. Apesar disso, percebe que o adimensional não pertence ao plano da existência relativa embora o movimento/manifestação de um ponto adimensional no plano da existência relativa gere um âmbito de amplitude unidimensional. O texto denuncia uma mente cuja sensibilidade proporcionou-lhe acesso ao reduto transcendental onde a existência relativa se instala. Faltando-lhe, porém, o referencial adequado (o logos normativo) que lhe permitisse organizar e distinguir o vislumbrado, expressa-se confusamente, falando em partícula sem dimensão e objeto unidimensional. Vista-se a lente do logos, e tudo fica meridianamente claro.

Nota 14, p. 218: “Einstein, com Nathan Rosen, brincou com a ideia de que o elétron pode, na verdade, ser um miniburaco negro disfarçado. A seu modo, ele tentou incorporar matéria a essa teoria de campo unificada, que reduziria as partículas subatômicas à geometria pura”.

  1. O modelo do logos normativo defende que o substrato do universo e de todos os fenômenos que o integram é constituído de geometria. Nessa perspectiva, todos os fenômenos lançam raízes na Geometria, na Lógica e na Matemática, que são os três elementos fundamentais do modelo. Ser puramente geométrico constitui justamente um dos fortes argumentos do modelo. Quanto à ideia de buraco negro, pode estar vinculada ao fato de o elétron, para realizar seus saltos de órbitas, demandar intercâmbio de quantas de energia com o vácuo, que, assim, deixa de ser um vazio para se tornar um reservatório infinito de energias (KAFATOS; KAFATOU, 1994, p. 66). Isso também encontra amparo no modelo, que prevê uma instância adimensional de potencialidades infinitas como fonte última de tudo.

Nota 15, p. 228: “Einstein tentou modelar o elétron e outras partículas elementares como um tipo de perturbação na geometria do espaço-tempo. Embora no final ele tivesse fracassado, essa ideia pode ser ressuscitada num nível muito mais elevado na teoria M”.

“Acredito que Einstein estivesse no caminho certo. A sua ideia era gerar física subatômica por meio de geometria.”

  1. O autor supõe que a teoria M pode ter origem em paradigma ainda mais simples, talvez na própria Geometria. O logos representa um paradigma formalmente geométrico, embora requisite também a presença da Lógica e da Matemática para compor o alicerce ontológico da natureza.

Nota 16, p. 333: “Enfim, acredito que a própria existência de uma única equação capaz de descrever o universo inteiro de um modo ordenado e harmonioso implica algum tipo de intenção”.

  1. O modelo do logos sanciona essa conclusão do professor Kaku, dado que recepciona o princípio entrópico segundo o qual as leis da natureza são combinadas, de modo que a vida e a consciência se viabilizem ou sejam possíveis. Em tributo à precisão, talvez não seja conveniente falar-se em intenção, mas em contingente necessidade (em sentido filosófico) estrutural. Nesse caso, pode-se pensar que a natureza sempre vai organizar as coisas, qualquer que seja o contexto, buscando complexidade crescente, seguindo a rota na qual surgem necessariamente a vida e a consciência.

Nota 17, p. 344: “A teoria das cordas e a teoria M representam uma nova abordagem radical à relatividade geral. Enquanto Einstein montou a relatividade geral em torno do conceito de espaço-tempo curvo, a teoria das cordas e a teoria M são construídas em torno do conceito de um objeto estendido, como uma corda ou uma membrana, movendo-se num espaço supersimétrico”.

  1. O modelo do logos normativo confere ou reserva ao universo um lugar geométrico dimensionalmente organizado, destacando cinco dimensões existenciais objetivas, enclausuradas em uma estrutura dotada de grande simetria, bem nos moldes do “espaço supersimétrico” mencionado pela teoria M.

Nota 18, p. 88: “A característica surpreendente dessas quatro forças é que elas são totalmente diferentes umas das outras, com intensidades e propriedades diversas. Por exemplo, a gravidade é, de longe, a mais fraca das quatro, 1.036 vezes mais fraca do que a eletromagnética”.

  1. No campo das divergências, notamos apenas o fato de o autor apresentar as quatro forças básicas da Física como sendo totalmente diferentes umas das outras, enquanto as quatro primeiras leis do logos são dicotômicas, sendo apenas a quinta totalmente diferente, isto é, complementar. Isso também pode ter vinculação com o fato de a Física pautar essa diferença na intensidade das forças (medida quantitativa), enquanto que o logos pauta as diferenças em padrões de movimento (medida qualitativa).

Na ocasião deste estudo, anotamos que uma análise conclusiva ficava prejudicada, tendo em vista que o modelo do logos normativo dependia ainda de provas de consistência com respeito aos teoremas fundamentais da Geometria e, virtualmente, também da Lógica e da Matemática, que são as disciplinas que lhe fornecem o alicerce. De qualquer forma e na perspectiva que estejamos certos, não deixa de ser impressionante que os físicos tenham antecipado tantos requisitos exigidos de um modelo destinado a fundamentar uma teoria de tudo, sem, contudo, matar a charada. Tivessem percebido que esse modelo deveria também organizar o mundo subjetivo, e a indicação do logos normativo seria completa. Aparentemente, a Física apenas não chegou ao modelo, porque o buscou no âmbito da própria Física, enquanto o modelo pertence ao âmbito da Metafísica. Naturalmente, a crença na imanência também representou obstáculo respeitável ao isolamento de um conceito útil de transcendência.

Se a análise voltada ao plano da realidade objetiva não contém elementos definitivos, quanto à propriedade de se aplicar o modelo ao mundo objetivo, nem tenhamos aportado a mesma riqueza de argumentos que utilizamos na publicação de 2011, para justificar a sua aplicação ao mundo subjetivo, ao menos esclarece, em boa medida, a razão e a fonte de nossas expectativas, já que atribuir à mera coincidência esses dezessete pontos de coincidência equivale a pensar que a complexidade pode dar-se no universo sem a concorrência de um estrutural impulso para a complexidade e sem a presença de leis universais determinantes. Algo que requer muita fé (no acaso) como sustentação.

De outro lado, quem já examinou cuidadosamente as soluções que o logos oferece no campo subjetivo e, agora, constata as soluções que ele encaminha no campo objetivo não pode ignorar o seu poder heurístico e, no mínimo, conceder que a hipótese contém elementos de convicção suficientes para ensejar que seja devidamente estudada.

Além dessas promessas que são inerentes ou relativas aos âmbitos das nossas tradicionais perspectivas objetiva e subjetiva, o modelo do logos contempla ainda relevante potencialidade estratégica em sentido estrutural do próprio ato de pensar. Compreendido que o ato de pensar se realiza sempre em face de um referencial e compreendido, também, que, em última instância, é esse referencial que determina o entendimento que temos das coisas, adotar um paradigma de validade universal, explicativo do fato existencial em geral, coloca-nos, certamente, como espécie, em patamar de igualdade com qualquer civilização que tenha atingido perspectiva cósmica – essa perspectiva cósmica representa certamente maturidade perceptiva universal, já que o fato existencial constitui, também certamente, a questão primeira suscitada pela presença do universo e pela presença de qualquer dos fenômenos que o integram. Portanto, ainda que a nossa leitura do fato existencial facultada pelo modelo do logos possa sofrer reparos, a perspectiva centrada na existência representa a perspectiva mais abrangente que pode ser assumida por qualquer espécie inteligente que participe deste universo.

Por isso, entendemos que a adoção do paradigma do logos potencializa outro patamar civilizatório no processo evolutivo da espécie humana e, na contrapartida, indica-nos também que permanecer sob influência de qualquer outro paradigma, de menor abrangência, mantém-nos prisioneiros de sectarismo, simplesmente inadmissível para qualquer virtual comunidade cósmica. Não cremos que isso seja admitido pela própria natureza humana, depois que tenha tomado consciência do fato.

Comentário

Cídio Lopes de Almeida disse:

29/12/2016, às 16h44

Este site me parece uma pérola no meio maçônico. Aliás, a Maçonaria tem me propiciado um jogo de desgosto e gosto. Certamente, o conteúdo deste site, que passo a ler com calma, inscreve-se entre as raridades que me fazem terem gosto pela Ordem.

Prof. Cídio Lopes de Almeida

Or. São Paulo

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