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As doutrinas não escritas: a resposta de Platão a Speusippus

John Pepple - 07/02/1997

Este estudo de John Pepple, o qual explora diferença conceitual que teria tensionado Aristóteles e Platão na Primeira Academia, oferece-nos oportunidade de começar a entender diferenças que, ainda hoje, persistem e tornam a abordagem adotada pela Academia Platônica de Brasília tão peculiar e distinta das abordagens hermenêuticas predominantes. Neste trabalho, Pepple explora o chamado argumento do terceiro homem, proposto por Speusippus, que, na época, teria impactado a Academia, na medida em que colocava em xeque a teoria das formas de Platão – um dos pilares da filosofia platônica. Apesar disso, constata Pepple, Platão não teria oferecido resposta adequada e – desconversando – teria apenas indicado ter certeza de que, no futuro, o argumento acabaria sendo derrotado. Pepple percebe que Platão se esquivou de tratar dessa questão da mesma forma que se esquivou de outras, tal como evidenciado, no século passado, pelos estudos rotulados de doutrinas não escritas de Platão. No fim, Pepple acaba convencido de que Platão não tinha resposta para uma objeção que colocava em xeque todo o seu edifício filosófico, mas reconheceu, igualmente, que Platão, apesar disso, tinha boas razões para não abdicar da sua teoria. Examinar com cuidado este trabalho afigura-se útil para a formação dos alunos da Academia, por evidenciar o papel crucial desempenhado pelas perspectivas de base que condicionam as análises. Pepple realiza um trabalho hermenêutico competente, ao identificar e relacionar os diferentes aspectos envolvidos na questão, do mesmo modo que demonstra ter sido extensivo o trabalho de pesquisa desenvolvido. Também evidencia agudeza perceptiva, uma vez que consegue evitar conclusões equivocadas. Apesar disso, não logra ser conclusivo, porque o esclarecimento completo da questão situa-se para além da perspectiva hermenêutica. O argumento do terceiro homem esgrima verdade lógica, enquanto o advento da forma de Platão resulta de um processo ontológico, apenas visível a partir de perspectiva metafísica. O entendimento pleno desta última sentença somente será alcançado quando o aluno dominar a perspectiva metafísica, ocasião em que também ficará evidente por que Platão esquivou-se de responder – embora, no Parmênides, o erro básico esteja apontado. O que ocorreu é que a questão apenas poderia ser respondida com o uso da teoria dos princípios, que Platão exigia que os seus alunos intuíssem por si mesmos e que, por diversas razões, deixou de registrar ostensivamente nos diálogos. Teoria dos princípios que hoje constitui objeto das chamadas doutrinas não escritas. Adicionalmente, esta leitura ajuda o aluno a desenvolver familiaridade com as circunstâncias da Primeira Academia.

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