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TMC I - Módulo 02

Rubi Rodrigues - 07/06/2022

Teoria do Conhecimento I – módulo 2

No módulo 1, defendemos que uma verdadeira TC precisa tanto especificar o sujeito e o objeto como esclarecer de que maneira deve-se dar a relação entre eles, para que o resultado constitua conhecimento confiável. De modo geral, o objeto que queremos conhecer é o mundo que está ao nosso redor ou o universo dentro do qual existimos, algo que parece estar fora de nós. E o sujeito que queremos conhecer somos nós, os homens, que pertencemos a uma espécie determinada que possui um corpo biológico dotado de funcionalidades e, também, uma mente ou consciência capaz de entender e dar significados às coisas.

A nossa percepção do mundo dá-se por meio de cinco sentidos orgânicos de percepção e de um sentido mental de intelecção. Os cinco sentidos orgânicos são comprovadamente especializados. O tato, percebe formas, superfícies, rugosidades, temperaturas. O paladar percebe sabores: doce, salgado, azedo, amargo. O olfato percebe odores, aromas, fragrâncias. A audição percebe música, sons, ruídos, e a visão percebe a aparência da matéria e as cores dos objetos e os fenômenos que compõem a diversidade manifesta do mundo. O ouvido ouve, mas não vê. O olho vê, mas não ouve, e isso vale para todos os sentidos: cada um deles apenas percebe o aspecto da realidade contemplado por sua especialização, sendo incapaz de perceber aspectos diferentes.

Esse fato constitui forte indicativo de que o sentido mental de intelecção também seja especializado e objetive um aspecto particular da realidade. A percepção mental dá-se na forma de pensamento e de compreensão, e o aspecto da realidade que lhe corresponde pode ser designado, ao modo platônico, como sendo o conteúdo inteligível das coisas.

Essa solução implica entender que a percepção mental, a intelecção, destina-se exclusivamente a captar o inteligível das coisas e, particularmente, não pode ser confundida com a percepção visual, que se destina a captar o que é visível das coisas. O olho vê a parte visível do mundo ou o mundo visível, e a mente percebe a parte inteligível do mundo ou o mundo inteligível. Dado que essa especialização pode ser comprovada – o que faremos mais adiante –, o que é visível no mundo não pode, realmente, ser pensado, e o que é inteligível não pode ser visto, dado que é invisível.

Dessa constatação resultam duas conclusões e dois problemas básicos. A primeira conclusão é que o universo é composto tanto de coisas visíveis como de coisas invisíveis e que as coisas invisíveis somente podem ser percebidas pelo sentido mental de percepção, caso sejam inteligíveis. A segunda conclusão explica porque a ciência atual não consegue formular uma teoria científica do conhecimento. Para a ciência atual, o sujeito é a consciência ou a mente que possui natureza invisível, e o objeto é o mundo material que possui natureza visível, a qual apenas pode ser percebida pelos sentidos orgânicos de percepção. Logo, quando a ciência procura relação direta entre consciência e matéria, busca por algo que não existe. A mente não opera o visível, opera apenas o inteligível.

O primeiro problema, resultante da especialidade dos seis sentidos de percepção, é que o objeto de estudo da ciência, definido como aquilo que está contido no âmbito local do espaço-tempo de Einstein, constitui equívoco monumental, porque ignora os conteúdos invisíveis da realidade. Os conteúdos do espaço-tempo são visíveis e deles apenas captamos visualmente a aparência. A ciência, porém, pretende dar conta da essência das coisas, e estas são invisíveis. Logo, a atual localidade científica – do espaço-tempo – precisa ser reparada.

O segundo problema é que, para provar que a mente também constitui um sentido de percepção especializado, precisamos especificar essa parte inteligível do objeto que lhe corresponde e demonstrar que a sua natureza é compatível com a natureza da mente, tal como o som é compatível com a audição. Mas estes são assuntos para outra ocasião.

Antes de encerrar, uma “nota de rodapé”. Estamos utilizando, nesta exposição, apenas os conceitos necessários à fundamentação lógica da TC que propomos, de sorte que conceitos da maior importância estão sendo colocados uma única vez, sem dar-lhes o merecido destaque. Mesmo assim, completar a série exigiu 36 módulos. Dado que o domínio pleno da teoria requer meditação mais detida sobre cada questão, disponibilizamos, na biblioteca da Academia, a transcrição dos módulos, de sorte a facilitar os estudos.

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