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TMC I - Módulo 03

Rubi Rodrigues - 07/06/2022

Teoria do Conhecimento I – módulo 3

No módulo 2, verificamos que os cinco sentidos orgânicos de percepção são especializados e apenas captam certos aspectos específicos da realidade. Com base nessa constatação, formulamos a hipótese de que o sentido mental de intelecção seja também especializado e somente consiga perceber do objeto o seu conteúdo inteligível, ou seja, aquilo do objeto que é inteligível.

Para entender o que seja esse inteligível, imaginemos que queremos saber como fabricar um avião e que optamos por pegar um avião e fazer uma engenharia reversa, visando a dominar esse conhecimento de modo mais fácil. Essa engenharia reversa implicaria o desmonte paulatino do aparelho, numerando as peças e registrando cuidadosamente a sequência, as relações das peças entre si e os cuidados a serem tomados para que os ajustes possam ser reproduzidos fielmente. No final da operação de desmonte, todas as peças necessárias seriam conhecidas, e os registros, tomados de trás para frente, comporiam projeto de montagem daquele tipo de avião. Naturalmente, em um caso concreto, o processo de engenharia reversa teria que se estender às peças, uma por uma, e, também, ao exame dos materiais utilizados, às ligas metálicas envolvidas, à eletrônica, aos detalhes aerodinâmicos e aos demais aspectos contemplados pela engenharia aeronáutica. Para o nosso propósito, porém, basta considerar a parte final do projeto, relativa à montagem do avião.

O projeto de montagem conteria a inteligência organizativa segundo a qual aquelas peças deveriam ser articuladas e reunidas para que, no final da montagem, o avião resultasse plenamente reconstruído e apresentasse as mesmas propriedades do original. Observe-se que, à medida que as peças fossem encaixadas umas nas outras, aquela inteligência organizativa especificada no projeto estaria sendo incorporada à nave em construção e, no final, o avião resultante seria completamente determinado por aquela inteligência organizativa registrada no projeto. Ao realizar o desmonte, os engenheiros foram interpretando essa inteligência organizativa e procedendo ao seu registro no futuro projeto. Esse projeto constitui o que chamamos de conhecimento, posto que pode ser transmitido para outros e ser utilizado para treinar equipes de montagem e orientar a construção de outros aviões.

Observe-se que, na mente dos engenheiros, o que se manifestou como pensamento e entendimento foi uma inteligência interpretativa que procurava reproduzir a inteligência organizativa que determinava e moldava o avião modelo. Caso essa inteligência interpretativa tenha correspondido fielmente à inteligência organizativa do modelo, o seu registro no projeto tenha sido bem feito e, posteriormente, as determinações do projeto tenham sido rigorosamente obedecidas na remontagem, o aparelho resultante apresentará as mesmas propriedades do original. Caso os testes de voo comprovarem isso, poderemos afirmar que, no caso, a inteligência interpretativa do sujeito – dos engenheiros – correspondeu fielmente à inteligência organizativa que determinava o objeto e também afirmar que essa inteligência organizativa estava devidamente registrada no projeto, constituindo o que chamamos de conhecimento.

Esse exemplo nos permite três conclusões iniciais. Em primeiro lugar, que o inteligível do objeto é a inteligência organizativa que determina que o objeto seja aquilo que é e não seja algo distinto. Em segundo lugar, fica demonstrado que a mente possui a mesma natureza desse inteligível, não só porque ambos são invisíveis, mas porque ambos são constituídos de inteligência: organizativa, no objeto, e interpretativa, no sujeito. Em terceiro lugar, fica comprovado que o sentido mental de intelecção é também especializado, tal como os cinco sentidos orgânicos de percepção: ele apenas é capaz de perceber a inteligência organizativa dos objetos e as propriedades que essa organização lhe confere. Há explicações adicionais necessárias e, também, outras conclusões possíveis, mas, por ora, guardemos apenas essas três.

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