Teoria do Conhecimento I – módulo 5

No módulo 4, verificamos que o nosso universo apenas admite a existência de fenômenos e de presenças configuradas na forma de totalidade. No módulo 3, havíamos demonstrado que os artefatos criados pelo homem são determinados por dada inteligência organizativa que os molda e os constitui precisamente na forma em que existem. Juntando essas duas constatações, sendo inteligência organizativa o que molda e constitui os objetos e dado que tudo o que existe existe na forma de totalidade, impõe-se concluir que a inteligência organizativa molda os objetos e os fenômenos sempre na forma de totalidade.

Em adição, conclui-se que a concepção de que uma dada inteligência organizativa molda os artefatos humanos – como vimos no exemplo do avião – aplica-se a todos os fenômenos existentes e, também, naturalmente, aos fenômenos produzidos pela natureza. Portanto, a regra revela-se universal.

Observe-se que a forma de totalidade cria uma unidade no âmbito da diversidade. Eu adoto a imagem da superfície da esfera para mentalizar a ideia de totalidade perfeitamente fechada e unitária. Por outro lado, o sentido em que se dá a pesquisa quântica, mergulhando no interior do átomo, sempre em busca do menor, indica que o seu sucesso maior dar-se-ia quando ela encontrasse uma unidade que fosse tão simples que não possa ser dividida. Adoto a imagem do ponto geométrico para mentalizar essa unidade indivisível. O ponto é definido em Geometria como um lugar no espaço desprovido de dimensão e, como tal, não admite divisão. Usando as figuras do ponto e da superfície da esfera, fica mais fácil vislumbrar as duas formas que o um ou a unidade pode assumir no mundo: como unidade simples e indivisível e como totalidade complexa feita de partes, mas unitária.

Esse duplo caráter da unidade constitui tema filosófico antigo. Platão dedicou o diálogo Filebo a essa discussão. A Física Quântica, talvez sem dar-se conta, ao superar o plano da matéria e seguir adiante na busca dos fundamentos do mundo, penetra em um âmbito de considerações que já foi amplamente explorado pela Metafísica. A ciência vê a Metafísica com desconfiança, embora a Metafísica, declaradamente, objetive o inteligível do mundo e não o visível e, nesse sentido, como vimos no módulo 3, revela-se mais promissora do que a própria ciência, uma vez que está focada no que é inteligível do objeto. Ao focar o inteligível, a Metafísica avança em entendimento, explorando os nexos lógicos necessários para justificar as coisas, sem depender das técnicas e das experiências de laboratório que a ciência utiliza para sancionar as suas conclusões. O único pressuposto da Metafísica, ao adotar esse procedimento, é que o mundo seja um cosmos e não um caos. Mas, se esse pressuposto estivesse equivocado, nem a ciência nem a razão justificar-se-iam. O universo seria incompreensível.

A Metafísica resolveu, há muito tempo, o problema da unidade simples e indivisível que a Física Quântica procura e designou-a de ser. Justifica esse ser porque cada um de nós pode, em ato de meditação e introspecção, perceber a presença desse ser como operador da nossa consciência e produtor de pensamentos que consideramos nossos. Por essa razão, identificamo-nos com esse ser e temos a convicção de que, em última instância, somos esse ser-intelecto que pensa e é capaz de julgar e entender. Como cada um pode constatar, esse ser é unitário e indivisível. O nosso ser não pode ser dividido.

Essa solução metafísica implica a compreensão de que tudo o que existe e manifesta-se no mundo possui um ser próprio e determinado o qual, nos seres vivos, mostra-se mais evidente, mas que, também, pode ser aceito sem grandes dificuldades, como presente no mundo mineral e em toda e qualquer manifestação existencial. Nos seres vivos, esse ser constitui a energia que deflagra o código genético, cuja inteligência organizativa potencial, entrando em ação acionada pelo ser, desdobra o organismo ali programado. Com essa solução, o ser inscreve-se como ponto de origem de tudo e de cada fenômeno que existe no mundo. No próximo módulo, daremos uma ideia do modo grego de pensar que possibilitou e ampara essa solução.