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TMC I - Módulo 11

Rubi Rodrigues - 07/06/2022

Teoria do Conhecimento I – módulo 11

No módulo 10, defendemos a hipótese de que a década sagrada e o modelo dimensional são expressões matemática e geométrica de um ciclo básico de complexificação que, na natureza, responde pela criação dos fenômenos presentes na existência, sempre na forma de totalidades moldadas por inteligência organizativa. Na ocasião, também esclarecemos que esse processo criativo constituía percurso ontológico e cumulativo que, partindo de uma unidade indivisível, culminava em uma totalidade complexa, também unitária.

Para sancionar essa tese, resta indispensável identificar os conteúdos objetivos de cada uma das instâncias dimensionais que, por acumulação, revelem-se necessários e suficientes para produzir a pretendida totalidade. Comecemos com o conteúdo da primeira dimensão.

Usando o caso humano como exemplo, verifica-se que o componente objetivo da primeira dimensão é o ser que nos constitui cuja presença constatamos em nossas inferências de autoconsciência. Esse ser emerge, na primeira dimensão, por transcendência do adimensional, segundo preconiza a perspectiva metafísica. Em laboratório, nas experiências controladas de mudança de órbita de elétrons, constata-se intercâmbio de energia com o que os cientistas chamam de “vácuo cósmico”. Ao mudar de órbita, o elétron não transita de uma órbita para outra, mas desaparece em uma e surge na outra, com carga energética diferente. Isso significa que surgir e desaparecer da existência constitui movimento transcendental comprovado em laboratório e que esse vácuo cósmico inscreve-se como fornecedor inesgotável de energia, ainda que se nos afigure um completo mistério. O ser humano surge quando a reunião de óvulo e gameta instala a grande célula, cujo desdobramento vai gerar o feto e, depois, o bebê. Esse ser irá acionar o código genético e provocar o início da ontogênese, razão pela qual a Metafísica designa essa energia de ser, que emerge como agente ativo e construtor de tudo que se segue.

Embora não possamos recusar a presença desse ser particularmente como intelecto operador da nossa mente e produtor de nossos pensamentos, fazendo-nos concluir necessário que, em última instância, esse ser constitui-nos na condição de inteligência capaz de pensar e de entender, de fato, não compreendemos integralmente esse ser. O modelo dimensional  informa-nos que esse ser, o qual é determinado e determina-nos como fenômeno humano específico, tem origem em âmbito adimensional estático, absolutamente indeterminado. No ilimitado. O modelo também nos informa que esse ser emerge no mundo relativo com amplitude de uma dimensão, em movimento semelhante ao movimento do ponto, determinando a reta como unidade geométrica. Logo, o que diferencia esse ser do indeterminado absoluto que lhe dá origem é o movimento e a consequente determinação. Daí que esse ser, em si mesmo e desprovido de movimento, afigure-se tão estranho e indeterminado para nós, tal como o adimensional, que não teve começo e, portanto, necessariamente, sempre existiu. Dado que essa existência desprovida de dimensão encontra-se fora dos recursos de entendimento que instrumentalizam a nossa mente, resta-nos a possibilidade de perceber a sua presença, a sua atuação e o seu movimento existencial, de concluir que nos constitui e de reconhecer o seu potencial criador ilimitado, comprovado pelo universo realizado em ato que aí está.

Não resulta lícito, portanto, perguntar pela constituição última desse ser, da mesma forma que não resulta lícito ignorar que a inclusão desse ser em nossos referenciais torna toda a geração do universo ontologicamente explicada e, também, torna o próprio universo compreensível em sua organização lógica, geométrica e matemática. Com ele, tornamo-nos aptos a navegar pelo mundo. Sem o ser-intelecto, ao contrário, o próprio mundo perde significado e sentido.

Portanto, não é lícito exigir explicação final e definitiva sobre esse ser que, ao menos, cada um por si mesmo, não lhe pode negar a presença na raiz de seus pensamentos.  Quem encontrar dificuldades com a Metafísica, aceite a presença do ser como hipótese e, após apossar-se do referencial, avalie a visão de mundo que ele proporciona e decida, então, se a opção lhe convém ou não. É preciso aceitar a lição de Pitágoras: o ilimitado é indeterminável, a não ser que se lhe imponha limite.

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