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TMC I - Módulo 21

Rubi Rodrigues - 07/06/2022

Teoria do Conhecimento I – módulo 21

No módulo 20, verificamos que o sujeito se encontra instrumentalizado com cinco padrões lógicos e que estes patrocinam cinco modos de pensar. Neste módulo, vamos examinar, mais de perto, esses modos de pensar.

O modo de pensar mais prestigiado no mundo ocidental é o modo científico de pensar, dito também pensamento sistêmico, o qual obedece a lógica clássica do terceiro excluído, que foi formalizada por Aristóteles, ainda na Grécia Clássica. O padrão de movimento que suporta esse modo de pensar apenas encontra-se presente na terceira dimensão do nosso modelo, instância que comporta objetivamente o espaço e a matéria. O princípio que rege o funcionamento da lógica clássica é o princípio de causalidade que vigora nas relações ou nos confrontos de matéria com matéria. Existe uma lei consagrada em Mecânica que exprime bem essa relação e afirma que a toda ação corresponde uma reação de igual intensidade e sentido contrário. O princípio de causalidade assegura que todo efeito tem uma causa e que existe um caso particular no qual essa relação entre causa e efeito é estável, razão pela qual ou se tem A ou se tem B, ficando liminarmente excluída uma terceira opção – por esse motivo, essa lógica é designada de lógica do terceiro excluído. A estabilidade entre causa e efeito permite a construção das cadeias sistêmicas que viabilizam as máquinas e as ferramentas tecnológicas do mundo moderno. Toda a manipulação humana da matéria exige o concurso e baseia-se nesse modo sistêmico de pensar.

O segundo modo de pensar mais prestigiado atualmente no mundo ocidental é o pensamento dialético, com base na lógica dialética, cujo padrão de movimento descortina o desenrolar do processo histórico, dentro do qual o homem desenvolve a sua ontogênese e cada sociedade, a sua civilização. Para que isso seja possível, precisamos do concurso do tempo, razão pela qual, no nosso modelo dimensional, estamos falando dos conteúdos presentes na quarta dimensão: no tempo objetivo, na lógica dialética ou lógica da história, e no modo dialético ou histórico de pensar. O modo de operação dessa lógica foi formalizado por Proclo, filósofo neoplatônico do início da Idade Média, como confronto entre tese e antítese, do qual resulta uma síntese que apenas pode ser estimada aproximadamente e nunca determinada com certeza, em virtude da profusão de variáveis que podem intervir no processo. Tese e antítese são os antecedentes, e a síntese é o consequente que se dá na linha do tempo. Observe-se que antecedente e consequente históricos nada tem a ver com causa e efeito sistêmicos e que, portanto, lógica clássica e lógica dialética são lógicas distintas que não se confundem, e que, agora, o critério dimensional permite separá-las de forma clara e definitiva.

Embora os demais modos de pensar sejam menosprezados pela cultura ocidental moderna, o modelo dimensional mostra-nos que são igualmente importantes na constituição do todo. O modo mais simples de pensar é o modo de pensar patrocinado pela lógica transcendental da primeira dimensão, que é a instância na qual o ser determinado emerge como movimento. O padrão de movimento da instância é aquele que fazemos ao traçar uma reta no papel. O movimento inicia-se, estende-se por algum tempo e, depois, cessa. Há um surgir, um estender-se e um cessar. Esse movimento explica o surgimento de algo em algum plano da existência, sempre na condição de unidade. Como já vimos, a amplitude de uma dimensão apenas admite uma presença unitária. Tudo o que existe comporta-se assim: em algum momento surge, persiste por algum tempo e, depois, desaparece. Esse padrão lógico patrocina alguns tipos de pensamento que se distinguem entre si embora obedeçam a mesma lógica. Podemos arrolar, como exemplo, a percepção da presença de alguém evita que esbarremos nele. A virtual identificação do que se apresentou porque temos, na memória, um nome que o designa. Olha, é o fulano! O próprio ato de buscar algo na memória o qual não estamos lembrando no momento configura um movimento transcendental. Também a intuição ocorre com esse padrão de movimento que parece auscultar uma região inconsciente ou uma memória que se situa para além da consciência. Todo processo criativo, no qual a mente idealiza algo novo ou inusitado, parece obedecer a essa lógica transcendental, conectando a nossa realidade consciente com algo que se situa além do nosso mundo consciente, cujo acesso somente uma inferência de padrão transcendental pode realizar. Sem esse padrão de pensamento, o homem não seria capaz de criar.

O modo de pensar correspondente à segunda dimensão do modelo é patrocinado pela lógica da diferença. Esse padrão de pensamento percebe as diferenças as quais, em razão da própria simetria, tipificam a segunda dimensão. Alto, baixo; gordo, magro; antes, depois; causa, efeito; branco, preto, entre outros. Todos os nexos organizacionais e a própria complexificação tornam-se possíveis em face de diferenças. A própria diversidade presente no universo apenas viabiliza-se em face da diferença. Observe-se que, para diferenciar A de B, é preciso antes identificar A e B, o que é feito pela lógica da primeira dimensão. Com isso, também no plano do pensamento, fica demonstrado que as dimensões são cumulativas. Antes, identificamos e, depois, diferenciamos.

Todos esses quatro modos de pensar – S1, S2, S3 e S4 – são modos dicotômicos de pensar: em S1, contrapõem-se ser e não ser; em S2, contrapõem-se as diferenças simétricas, como claro e escuro; em S3, contrapõem-se causa e efeito. Em S4, contrapõem-se tese e antítese. Em todas essas instâncias, a natureza capitaliza diferenças para produzir complexidade, capitaliza as tensões estruturais próprias da diferença. Apenas no modo complementar de pensar, no pensamento S5, relativo à totalidade, é que as tensões desaparecem, porque a unidade foi reestabelecida como bem indica a figura da superfície da esfera. No fechamento perfeito da esfera, quando todas as partes se encaixam com precisão, é que as tensões desaparecem e um estágio de repouso é alcançado. No ser humano, esse preciso fechamento da esfera, em unidade perfeita, produz a sensação de bem-estar que torna a vida gratificante. A lógica complementar designa-se holística porque se destina a contemplar e a produzir o todo, sem a possibilidade de excluir alguma parte e sem tampouco privilegiar qualquer parte. O todo transcende as partes e gera realidade superior às partes. O pensamento é complementar porque é empenhado na configuração de uma totalidade que necessariamente precisa ser unitária. O homem moderno encontra-se criticamente deficitário de capacidade de pensar o todo. Existem ensaios iniciais, tais como o pensamento ecumênico e o pensamento ecológico, que são voltados para o todo, mas são ainda pensamentos carentes de fundamentação lógica e científica, assim como aqui estamos fazendo, sob amparo do modelo dimensional. 

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