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TMC I - Módulo 22

Rubi Rodrigues - 07/06/2022

Teoria do Conhecimento I – módulo 22

No módulo 21, examinamos os cinco modos de pensar patrocinados pelas cinco lógicas que instrumentalizam a mente humana segundo o modelo dimensional. Nesse exame, tentamos demonstrar que se trata de modos distintos de pensar, tal como são distintas as instâncias objetivas visadas que se articulam e se somam na composição do objeto.

Entre esses modos de pensar, destacamos que o pensamento da totalidade representa o menos executado pela espécie humana, na presente quadra dos tempos, fato que resulta preocupante, tendo em vista que a realidade apenas comporta totalidades e que o homem se orienta na vida segundo as suas interpretações dela. Esse uso minguado desse pensamento resulta naturalmente da baixa percepção da totalidade e do desconhecimento da utilidade desse modo de pensar e implica consequentemente precário domínio da lógica que o sustenta. Considerando essa situação, vamos dedicar o presente módulo para entender melhor esse conceito de totalidade.

Para tanto, usaremos um exemplo físico que dispensa domínio da perspectiva dimensional, mas que serve de metáfora perfeita para esclarecer o todo indicado no modelo. Como é do conhecimento geral, a molécula de água resulta da adequada articulação de dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio. Nessa situação, hidrogênio e oxigênio são as partes, e a água representa o todo.  Tal como o modelo dimensional indica, o todo, também nesse caso, não exprime a mera soma das partes, mas estabelece uma realidade de natureza completamente distinta das partes, por isso, defende-se que o todo transcende a soma das partes.

Focando o hidrogênio, verifica-se que ele constitui um todo dotado de propriedades e de espaço de possibilidades existenciais próprios. É inflamável, na forma de plasma, viabiliza as fornalhas cósmicas que chamamos de estrelas, pode alimentar motores de combustão e impulsionar foguetes, pode ensejar uma explosão atômica, possui aplicações químicas e industriais. Em síntese precária, esse é o seu horizonte de possibilidades. Por outro lado, o oxigênio também é uma totalidade com propriedades e espaço de possibilidades próprios. Compõe a atmosfera da terra, na forma de ozônio, absorve a radiação ultravioleta do sol e protege a vida, possui aplicações industriais e, principalmente, oxigena o organismo humano e viabiliza sistemas de suporte à vida, em ambientes distintos da atmosfera natural do planeta. O seu horizonte de possibilidades, simplificadamente, resume-se nisso. A água, da mesma forma, também é uma totalidade e possui igualmente um horizonte de possibilidades. É o solvente da vida tal como a conhecemos, pode gerar oceanos, oceanos eventualmente podem facultar o surgimento da vida, a água evapora e forma nuvens que avançam continente a dentro e precipitam-se na forma de chuva. A chuva gera rios cheios de vida, alimenta plantas, viabiliza florestas, permite que a vida se espalhe pelo território, enfim, torna possível um verdadeiro sistema circulatório vital do planeta. Embora a água possua outras propriedades e aplicações, as mencionadas parecem ser suficientes para evidenciar que o horizonte de possibilidades da água, o seu universo existencial e de realizações, situa-se completamente fora do horizonte de possibilidades e do universo de realizações dos átomos-parte que a constituem. Isso significa que a perspectiva que se abre no horizonte de possibilidades dos átomos, isto é, das partes não possui qualquer utilidade nem mesmo competência para visualizar, julgar ou atuar no horizonte de possibilidades da molécula. O pensamento da parte não tem nada a dizer sobre a realidade do todo, simplesmente porque a sua natureza é completamente distinta. Repitamos: a realidade do todo transcende à realidade das partes, é outra coisa, como o exemplo da água demonstrou.

Vimos, no modelo dimensional, que a lógica que se aplica à parte, isto é, a qualquer uma das quatro dimensões não se aplica à instância de totalidade, como o exemplo da água bem evidencia. Logo, isso aplica-se a todas as totalidades que viabilizam a complexidade tanto no meio natural como no meio social, uma vez que o social também pertence ao mundo e também está sujeito às leis que regem a existência. Vejamos: o algoritmo da criação, ao explicar toda a existência, ao ter aplicação universal, explica também os fenômenos sociais que, por existirem de fato, também estão sujeitos às mesmas leis. E, aí, abre-se um leque monumental de problemas que decorrem do desconhecimento das leis universais, do uso de referenciais que camuflam a realidade e mostram alguns aspectos e escondem outros. Decorrem também das falhas do sistema educativo científico que, analítico e voltado para as partes, não ensina nem mostra a totalidade para os alunos e, com isso, forma homens mentalmente mutilados, cujo alcance da razão limita-se às partes, ao estudo analítico das partes e às perspectivas das partes. Esses homens depois são chamados para gerir o estado, conduzir a nação e administrar o todo social. Dá para perceber a encrenca? Isso merece certamente outras e mais detidas reflexões, mas, aqui, estamos tratando de teoria do conhecimento.

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