Biblioteca

TMC I - Módulo 24

Rubi Rodrigues - 07/06/2022

Teoria do Conhecimento I – módulo 24

No módulo 23, verificamos que, partindo da nossa relação física com o mundo, manifesta na terceira dimensão do modelo, em face dos sentidos orgânicos de percepção que instrumentalizam o nosso organismo, torna-se possível identificar e justificar percurso racional que se estende do objeto até a consciência, sem obstáculos impeditivos do trânsito dos elementos básicos, das afecções, a partir dos quais a consciência vai produzir entendimento relativo ao objeto. De modo simplificado, podemos dizer que os sentidos orgânicos são sensibilizados com impressões propiciadas pelo objeto, o sistema nervoso periférico leva tais impressões até o cérebro, que as processa de algum modo, e, com o resultado desse processamento, a consciência gera compreensão e atribui significados. O percurso que vai do objeto até o cérebro ocorre em meio físico e obedece aos ditames da lógica clássica do terceiro excluído: um percurso sistêmico perfeitamente ao alcance da ciência atual. A última etapa implica transição entre cérebro e consciência, regida pela lógica transcendental, o que vai exigir uma ciência com alicerce metafísico.

Esse percurso explica por que não se encontrou solução ao buscar relação direta entre a consciência e a materialidade do objeto. Tal coisa, como vemos, não existe. Entretanto, ainda que esse percurso esclareça melhor as coisas, resulta insuficiente para elucidar completamente a relação, tendo em vista que o objetivo que propusemos para uma teoria científica do conhecimento é fornecer um método que possibilite a geração de interpretações confiáveis, de sorte a habilitar-nos para uma ação adequada no mundo. Para tanto, resta ainda esclarecer como, valendo-se dessa relação, o conhecimento é construído e, em complemento, esclarecer quando o conhecimento acumulado resulta suficiente para os nossos propósitos.

No módulo 5, verificamos que, em última instância, a totalidade do objeto é determinada por dada inteligência organizativa e, no módulo 3, aprendemos que a cognição é especializada na percepção de inteligência organizativa. No módulo 16, concluímos pelo caráter universal do modelo dimensional e entendemos que tudo o que existe em ato, no mundo, possui estrutura constitutiva ontológica comum, configurada em cinco instâncias complementares, segundo descreve o algoritmo da criação. Finalmente, verificamos, também no módulo 3, que o entendimento se realiza pela construção, na mente, de inteligência interpretativa que seja correspondente à inteligência organizativa do objeto. O modelo intelectivo assim descrito viabiliza-se, uma vez que pensamento e pensado possuem a mesma natureza: ambos são constituídos de inteligência, organizativa no objeto e interpretativa no sujeito.

O ser intelecto que opera a mente na busca de compreensão vale-se, nesse processo, de fatores de produção e de insumos, tal como qualquer planta industrial. Como fatores de produção, destacam-se cinco padrões lógicos e cinco modos especializados de pensar. Além disso e da própria arquitetura especializada da consciência, agora, com o conhecimento do algoritmo da criação, soma-se a esses recursos um mapa geral dos objetos, indicando cinco categorias de conteúdos constitutivos que, sendo perfeitamente complementares, faculta que o objeto seja contemplado em toda a sua extensão existencial, configurando garantia de que nada relevante do objeto será esquecido ou deixado de lado. Com isso, o processo de busca do saber e do conhecimento enriquece-se com um esquema geral indicativo da compleição dos objetos, igualmente indicativo de como deve ser organizada a descrição correspondente.

Na categoria de fatores de produção, inscreve-se, ainda, experiência histórica na interpretação das afecções e impressões que se oferecem ao tratamento cerebral, uma linguagem e uma gramática capazes de formalizar significados e um fundo geral de cultura e valores que define as circunstâncias intelectivas do sujeito. O principal insumo é inteligência organizativa, entendida como conjunto de nexos lógicos, diferenças, tensões, posição relativa, relações de dependências e de interdependências, de pertencimento, de complementaridade, de precedência ontológica e, enfim, de configuração organizativa e de coerência interna geral necessária à constituição de uma totalidade existente em ato. Frases, sentenças, equações, esquemas, descrições e todos os demais recursos disponíveis na linguagem podem compor inteligência interpretativa capaz de expressar a coerência interna e a complementaridade necessárias para justificar a existência do objeto e, assim, corresponder à inteligência organizativa dele. Nesses termos, o processo de coleta de informações sobre o objeto implica identificar e coletar os nexos lógicos que compõem a sua inteligência organizativa, usando, como referência metodológica, o modelo dimensional e, como ferramentas, as diferentes lógicas e os diferentes modos de pensar.

Com esse procedimento, a completude da nossa compreensão do objeto pode ser avaliada objetivamente à vista do modelo dimensional: a descrição deve indicar os nexos lógicos e os nexos ontológicos que justificam aquela existência. Resta, em complemento, a questão sobre profundidade que a nossa análise deve atingir, de forma que o nosso conhecimento seja suficiente para embasar uma ação prática na vida que seja adequada, oportuna e eficiente. Trataremos dessa questão no próximo módulo.

© Academia Platônica de Brasília 2024 - Todos os direitos reservados.