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TMC I - Módulo 31

Rubi Rodrigues - 07/06/2022

Teoria do Conhecimento I – módulo 31

No módulo 30, concluímos que, segundo nos mostra o modelo dimensional, o ser humano não atingiu ainda a plenitude humana que lhe é potencial. Estando a humanidade em processo de evolução mental, convém situar melhor o processo civilizatório, de tal sorte a potencializar atitudes adequadas. Para tanto, vamos deixar o plano geral do processo e mergulhar no plano das lógicas e dos modos de pensar, para ver se, ali, a questão se esclarece.

O bebê humano regularmente formado enfrenta processo de adaptação ao mundo e, logo, aprende a se comunicar e a falar. O processo de aprendizagem, nos primeiros quatro anos de vida, é vertiginoso, e, nas últimas décadas, cresce a impressão de que as crianças estão cada vez mais precoces. Embora não seja estudioso desse processo e tenha a impressão de que condições aconchegantes, carinho, segurança, alimentação adequada e estímulos de toda ordem sejam fatores favoráveis ao aprendizado mental da criança, o modelo dimensional da consciência permite-nos algumas constatações adicionais.

Particularmente, a ausência de um método formal de pensar enseja que esse aprendizado seja aleatório e esteja fortemente sujeito às condições conjunturais fortuitas que emolduram a vida da criança. Assim, ela vai usando as lógicas e os padrões de pensamento segundo exigem as ocasiões e, dessa forma, constrói uma experiência que lhe vai servir de referência no futuro. Esse processo de exercício das lógicas e dos pensamentos apenas não resulta ser completamente aleatório, porque as lógicas e os padrões de pensamento são cumulativos e partem do mais simples para o mais complexo. Com isso, é natural que toda a compreensão comece com a identificação da mãe e dos mais próximos, o que envolve operações S1. Não demora, porém, que ela esteja declarando em alto e bom som: – “é meu!”, quando outra criança demonstra interesse pelo seu brinquedo, em clara indicação de que todas as quatro lógicas dicotômicas já estão em ação e que, lá embaixo, o instinto de conservação também está ativo.

Esse processo de uso dos recursos mentais é, portanto, francamente aleatório, e apenas um método de tentativas e erros vai ensejar a valorização dos resultados dos seus julgamentos. Dado que a escola não lhe apresenta uma teoria do conhecimento que permita pôr ordem nesses recursos, o processo de tentativas e erros perpetua-se e persiste por toda a vida.

Nessas condições, não é difícil que algum modo de pensar sobressaia-se, por ensejar grau maior de sucesso na vida ou junto aos seus pares e acabe predominante na cabeça de alguns. Daí ser possível encontrar na população uma parcela que se utiliza instintivamente de todos os quatro modos de pensar e outra que se encanta com um dado modo e avalia tudo segundo a lógica e o modo de pensar com o qual se encantou. Essas pessoas tornam-se crescente e predominantemente monológicas. Essa mente monológica configura certamente uma pessoa limitada em seu poder de discernimento, uma vez que vislumbra apenas uma das dimensões da realidade. Quando esse modo monológico de pensar resulta absolutizado e generalizado, gera concepções parciais e incompletas do mundo, as quais têm recebido, na cultura ocidental, a designação de ideologias.

O algoritmo da criação permite-nos constatar que se tratam de ideologias da parcialidade que são concepções pretensamente gerais que, de fato, limitam-se a traduzir a lógica da parte. Daquela parte. Elas convencem os seus adeptos, porque os raciocínios elaborados satisfazem a lógica movimentada, o que, por óbvio, não poderia ser diferente. Assim, quando um monológico S1 absolutiza a sua religião, converte-se em fundamentalista e, facilmente, pode concluir que os indivíduos que não reverenciam o mesmo deus que ele são dispensáveis e podem ser eliminados. Da mesma forma, um monológico S2, encantado com a lógica da diferença, pode absolutizar uma diferença qualquer – de cor, de raça, de beleza, de origem, entre outras – e, no extremo, gerar uma seita ou uma concepção inclassificável, como a tal de ideologia de gênero. O monológico S3 não faz melhor quando absolutiza o pensamento sistêmico e gera as chamadas ideologias de direita, em que tudo se resume ao processo produtivo e a questões financeiras ou de funcionalidade. Da mesma forma, ocorre com o monológico S4, que, embora opere a lógica mais complexa das quatro, não escapa à regra quando gera as chamadas ideologias de esquerda, que apenas vislumbram o infindável processo histórico no qual os conflitos dialéticos se sucedem, sem a menor chance de encontrar momento de equilíbrio e de repouso. O processo histórico não tem fim.

Todos os monológicos tendem a ser pessoas sofridas, porque a sua razão consciente encontra-se em conflito estrutural com as potencialidades latentes da mente, ainda que esse conflito permaneça velado no inconsciente. Esse conflito tende a insinuar-se mais claramente nos monológicos S4, em que a própria lógica dialética não oferece sequer a esperança de atingir um porto seguro e estável. No final ou no futuro, o que a dialética vislumbra é a entropia, com o seu efeito destruidor. Não deve ser fácil.

O custo, em vidas humanas, que a humanidade pagou nos séculos XIX e XX, em virtude e em decorrência de ideologias, é um dado conhecido de todos e dispensa outros comentários. Mas, afinal, onde se situa a humanidade moderna em termos de evolução mental?

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