TMC I - Módulo 32
Rubi Rodrigues - 07/06/2022
Teoria do Conhecimento I – módulo
32
No módulo 31,
verificamos que o uso não metódico e não organizado da razão instala
aleatoriedade que gera indivíduos monológicos que, ao generalizarem suas
perspectivas, produzem as ideologias que vitimaram a humanidade,
particularmente, nos últimos dois séculos.
Naturalmente, é, no
campo político, que essas ideologias se manifestam. Em termos de complexidade
lógica, o campo político situa-se no âmbito do modo S4+ de pensar,
caracterizado pela lógica dialética e pela presença do livre arbítrio. É, nessa
faixa, que se enquadram a organização social, o estado e a organização das
cidades. É, aqui, que, dialeticamente, o ser humano tem desenvolvido regras de
convivência, cultivado culturas, estabelecido governos e procedimentos
políticos, criado instrumentos de mediação jurídica, instituindo sistemas de
ensino, e, enfim, desenvolvido civilização. É também, nessa faixa de percepção
S4+, que se evidencia, de forma mais gritante, a tragédia social de diferentes
matizes que vitima grandes contingentes humanos em todo o planeta, tornando meridiana
evidência uma acentuada incompetência política de gestão do processo
civilizatório. As razões desse flagelo podem situar-se, em alguma medida, nas
concepções ideológicas, mas, no fundo, decorrem de dificuldades de
discernimento e de aplicação equivocada de modos de pensar. Problemas que, aqui,
estamos tentando enfrentar com uma teoria do conhecimento.
Quem primeiro alertou-nos
que a humanidade estava enfrentando um problema lógico, e de racionalidade, foi
o engenheiro e pensador Luiz Sérgio Coelho Sampaio, que nos falou sobre a
existência de cinco padrões lógicos universais, cujas pesquisas lógicas tentamos
dar continuidade. Sampaio defendeu, em 16/6/1999, em discussão com o professor
Hélio Jaguaribe, no Laboratório de Estudos do Futuro da Universidade de
Brasília (UnB), a ideia de que a evolução humana pode ser explicada pela
prevalência e pela superação de padrões lógicos de pensar. Vale a pena fazer um
parêntesis e recordar o ocorrido nessa oportunidade. O desafio comum, na
ocasião, foi desenvolver abordagens que permitissem identificar alternativas de
futuro, para as sociedades humana e brasileira, e, para isso, a estratégia
adotada pelo Reitor da UnB foi contrapor as visões de um lógico e de um
sociólogo.
O
professor Jaguaribe, ao esclarecer os pressupostos adotados na sua abordagem,
estabeleceu alicerce sobre fatores estruturais (reais e ideais) e fatores
conjunturais, no caso, o acaso, decorrente da liberdade humana. Com isso, fixou
trilogia básica virtualmente suficiente para sustentar o seu discurso. As
imposições gerais da contingência seriam os fatores reais – o modo de pensar
predominante na elite – os fatores ideais, e o acaso representaria o terceiro
elemento, de caráter conjuntural.
Em
última instância, portanto, a perspectiva adotada pelo professor Jaguaribe
fundamentava-se no grande número, na quantidade massiva em que a influência da
unidade pode ser desprezada. Não em virtude de opção ou gosto pessoal, diga-se
de passagem – isso, ao menos, é o que se depreendeu da sua observação de que o
caminho da relativização absoluta decorria da ausência de qualquer critério de
validade universal, ou seja, já que o disponível era um limão, a saída era fazer
uma limonada.
O
professor Sampaio, por outro lado, ao propor um esquema de padrões lógicos
diferenciados para interpretar a história da humanidade, adotava como
pressuposto que o discernimento humano resultaria de operações lógicas e que o
processo evolutivo da humanidade seguiria de par com o domínio formal de
padrões lógicos crescentemente complexos que possibilitariam modos de pensar e de
interpretar cada vez mais poderosos
Nesse
modelo, a história humana essencial seria a história da evolução do
discernimento. Por isso, cada estágio de discernimento traria logo consigo a
sombra ameaçadora do estágio seguinte que vai superá-lo. O estágio seguinte
obviamente não é claramente visível porque pressupõe uma lógica distinta da vigente
no estágio atual. Dado, porém, que algo já se insinua, a lógica atual cria o
que o professor Sampaio chama de fingimento
do novo, fato magnificamente demonstrado por Walter Benjamin, nas famosas
Passagens de Paris, tendo em vista o despertar da modernidade. Em síntese, a
perspectiva do professor Sampaio propõe a lógica como sendo o critério de
validade universal cuja carência o professor Jaguaribe denuncia.
Um
relato mais completo desse evento pode ser acessado no link
Na
sessão de debates, somente nós dirigimos uma pergunta ao professor Sampaio, o
resto da plateia, composta de professores da universidade, apenas questionou o
professor Jaguaribe, fato que evidenciou o grau de entendimento e de aceitação
da concepção lógica naquela ocasião.
No
próximo módulo, continuaremos a exploração da tese de Sampaio.