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TMC I - Módulo 36

Rubi Rodrigues - 07/06/2022

Teoria do Conhecimento I – módulo 36

Com a demonstração concluída no módulo 35, de que as lógicas constituem critério adequado para se indicar as distintas fases históricas cumpridas pela civilização humana, resta também evidenciado que o modelo dimensional se insinua como potencialmente capaz de, no mínimo, recepcionar e dar solução inovadora, para ampla gama de problemas recorrentes, ainda que tenha, como limite de pretensão, desvendar o algoritmo da criação adotado, pela natureza, na geração de tudo o que existe. Com isso, finalmente, enfrenta-se a questão da existência, a qual é a questão primeira do conhecimento, uma vez que, antes dela, não há nada a se questionar.

Embora as pretensões de uma teoria do conhecimento limitem-se a normalizar o ato de pensar e a propiciar interpretações confiáveis da realidade, essa teoria constitui certamente recurso estratégico fundamental para a adequada condução da vida individual e coletiva. A Teoria Metafísica do Conhecimento, que foi apresentada nesta série de vídeos possui potencialidades promissoras de compreensão, como esperamos ter ficado evidente com a explicitação da história lógica da humanidade, mas envolve desafios adaptativos de grau de dificuldade nada desprezíveis. O preço costuma ser correspondente aos benefícios, e a alegoria da caverna de Platão evidencia as dificuldades dois mil e quinhentos anos depois.

A tese não está propondo simplesmente a colocação de um novo tijolo na construção do saber humano, mas propondo a troca da pedra fundamental de todo o edifício. Temos olhado para o mundo com olhos cartesianos e einsteinianos que descortinam um espaço-tempo irredutível e estamos propondo a adoção de um olhar dimensional que estende a existência para além e para aquém do espaço e do tempo. Praticamente, estamos falando de outro mundo e falando em uma mudança muito mais radical do que aquela experimentada com a superação do modelo geocêntrico. Estamos falando de novo estágio civilizatório.

A Física é desafiada em seu conceito de localidade, embora seja agraciada com uma hipótese sobre o campo unificado. A Matemática é desafiada a contemplar múltiplos graus de infinidade, tal como já o fizera Cantor no século dezenove. A Geometria é desafiada a contemplar amplitude universal dimensionalmente organizada. A Lógica, que se pensava única, é desafiada a contemplar multiplicidade de padrões lógicos. A política é desafiada a superar as ideologias e a pensar o todo. A Teologia é desafiada a seduzir mentes inteligentes, críticas e universalistas. O Estado é desafiado a superar a tradição monárquica e limitar-se a expressar e defender os interesses coletivos da Nação. A Psicologia é desafiada a enfrentar uma mente passível de ser logicamente organizada, assentada sobre instintos delicados e potencialmente perigosos. A mídia é desafiada a promover virtudes em lugar de cultivar instintos. Enfim, para qualquer lado da vida que se olhe, o que se vislumbra são desafios monumentais. Estamos operando ao nível da lógica da criação.

Nada, porém, compara-se ao desafio que se oferece à Academia. Se a questão básica é teoria do conhecimento, é no campus das universidades que a grande batalha deve ser travada. Não adianta sonhar com uma civilização superior conduzida por mentes holísticas, focadas no todo que lhes corresponde gerir, se a Academia não formar indivíduos, mental e eticamente, aptos a perceber e a operar totalidades. Não é a Academia o lugar de formação dos homens? Um homem bem formado não deve ser capaz de pensar metódica e organizadamente e ter consciência plenamente emancipada em termos interpretativos? A principal atribuição de um sistema de ensino não deveria ser ensinar a pensar de forma competente? A maior facilidade que o modelo dimensional oferece é não se tratar de mera opinião humana ideologizada, mas, sim, de um referencial impessoal, de constituição lógica, geométrica e matemática. Com isso, os discursos que tomam o modelo como referência deixam de ser pessoais e opinativos, mas resultam conclusões facultadas pelo modelo. É o referencial que fala e, não, uma pessoa. Com isso, pensamos, a comunicação fica facilitada.

Sabemos que o poder econômico, na modernidade, capturou o sistema de ensino e o colocou a serviço da ciência e da técnica, em benefício da indústria, e sabemos também que, no último período, a universidade acabou capturada por interesses políticos e ideológicos, sendo a situação da UnB, nesse sentido, emblemática. Aliás, o Brasil de hoje, a política brasileira bem como a justiça e a universidade brasileira explicitam, aqui, como clareza ímpar no mundo, a crise do padrão civilizatório S4, especificado quando examinamos a história lógica da humanidade. Não é por acaso que, hoje, quando estas linhas estão sendo escritas, a Reitoria da UnB está ocupada por estudantes, impedindo o trabalho regular, e um ex-presidente está na cadeia, respondendo por crimes de corrupção. Uma situação calamitosa? Não, apenas os estertores e os funerais de um padrão civilizatório que se exauriu. É apenas o curso inexorável do trator da história, nivelando o terreno para uma nova edificação.

A nós – que temos o privilégio de estar vivos neste momento – são oferecidas principalmente duas opções: podemos sentar à beira do caminho e lamentar a destruição ou podemos arregaçar as mangas e nos apresentar no canteiro de obras.

A você – que nos acompanhou até aqui – agradecemos pela companhia. Esperamos ter ajudado de alguma forma.

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