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A guerra da lógica

Rubi Rodrigues - 11/04/2006

A GUERRA DA LÓGICA

Enquanto a política rouba a cena midiática, com um script de inegável mau gosto, e vende subliminarmente a ideia do mais completo fracasso do projeto civilizatório tupiniquim, em recantos insuspeitos desta terra abençoada, a vida gesta e prepara o despertar. Tal como Osíris, temporariamente preso nas entranhas da semente, é preciso vencer a imobilidade estrutural da matéria e pôr em movimento as potencialidades latentes na amêndoa, para que a vida irrompa gloriosa e bela neste pedaço abençoado da natureza.

Um desses campos é a lógica, em que se trava uma guerra de vital importância, não apenas para o Brasil, mas para toda a civilização ocidental, mostrando, de outro modo, como no universo tudo está relacionado e todos os fenômenos são interdependentes. No campo de conhecimento designado por lógica, defrontam-se forças telúricas essenciais capazes de mudar o curso da história. De um lado, uma concepção monológica de lógica que deita raízes na tradição de Aristóteles e serve de fundamento ao pensamento científico moderno e, de outro, uma concepção multilógica de lógica, de história mais recente, que defende a pluralidade lógica.

Por que uma discussão acadêmica se revela tão importante para a humanidade? Porque a atitude humana no mundo depende da interpretação que o homem faz desse mesmo mundo e do universo que o cerca e porque é a lógica que preside o ato interpretativo e, de modo geral, todo o pensamento humano. Dessa forma, tanto a competência cognitiva geral quanto a competência interpretativa mais restrita dependem do alicerce lógico e da precisão lógica com que são executados os atos de inferência que produzem os pensamentos. É a lógica que possibilita o pensar correto e é também a lógica que nos permite identificar e aceitar um pensamento como sendo correto.

Nessas condições, a concepção tradicional de lógica, ao defender a existência de apenas um padrão lógico – o padrão lógico que liga, de modo estável e consequente, uma causa ao seu efeito dentro de ambientes e sistemas estabilizados –, produz o malefício colateral de restringir o pensamento, a capacidade perceptiva e a própria aceitação do que seja pensamento válido e inferência correta, ao âmbito e aos casos em que a relação estável entre causa e efeito faz-se presente. Ora, essa relação estável entre causa e efeito somente está presente quando a matéria se relaciona com a matéria, isto é, somente está presente no âmbito da materialidade física. Por isso, os cientistas fascinados pelos métodos científicos vigentes, quando incapazes de lhes oferecer uma crítica, são todos invariavelmente materialistas imanentes. Para eles, o universo esgota-se no plano material, em grande parte por entenderem que adotar outro olhar implica abandono da lógica e queda em devaneios imponderáveis.

O mundo obviamente não pode prescindir desses cientistas e, para libertar suas mentes para voos mais amplos, será necessário provar a pluralidade lógica e demonstrar que outros padrões lógicos, plenamente formalizados, possibilitam descortinar outras instâncias do universo, com o mesmo poder elucidativo da lógica clássica, apenas obedecendo a padrões lógicos outros que possuem características próprias e vislumbram aspectos também específicos da realidade.

Para tanto, é preciso que a batalha que se desenrola no reduto dos lógicos se decida em favor da pluralidade lógica. Somente assim o cientista e o homem ocidental conseguirão estender as suas visões à totalidade dos fenômenos e produzir soluções mais ajustadas à realidade. Esse parto naturalmente será doloroso, porque a ciência terá de incorporar aos seus objetos as instâncias não materiais dos fenômenos, isto é, terá de incorporar as dimensões espirituais que integram a realidade.

Obviamente, em termos científicos, isso representa uma revolução, posto que muda radicalmente a demarcação científica vigente, mas não deve assustar-nos, afinal, já houve época em que o conhecimento humano mais elevado não distinguia aspectos materiais de aspectos imateriais: a esfinge e as pirâmides do Egito são testemunhas eloquentes. De mais a mais, o universo é cíclico, e o Apocalipse é apenas o livro que antecede um novo Gênesis.

 

 

11/4/2006

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