Professores e profissionais formados em filosofia são o público-alvo preferencial da Academia Platônica de Brasília, em sua fase “beta” inicial. Naturalmente, a formalização do modo platônico de pensar que conseguimos plasmar configura tese filosófica que resulta de certa interpretação da obra de Platão a qual, como toda tese científica, admite ser sancionada ou refutada no tempo. As credenciais dessa tese assentam-se no fato de ela potencializar teoria metafísica do conhecimento e cosmovisão metafísica correspondente. Estas, em conjunto, configuram nova visão de mundo e permitem o domínio metódico do ato de pensar, cumprindo o papel que se espera de toda teoria com pretensão científica. Ao tornar metódico o ato de pensar – fato inovador na história do conhecimento humano –, potencializa alicerce para a contemplação metódica e completa de qualquer fenômeno existente, uma vez que especifica os modos de ser segundo os quais a existência se dá, permitindo que qualquer fenômeno seja examinado em toda a sua extensão existencial, o que possibilita compreensão mais fidedigna da realidade. Dado que, presentemente, o conhecimento se desenvolve sem o concurso de uma teoria científica do conhecimento – no sentido de oferecer método formal e instrumental para agir –, dispor de um método afigura-se avanço que estabelece novo marco na indústria de produção de conhecimentos. Em consequência, abre-se inusitado universo de possibilidades profissionais para formados em filosofia, de vez que a habilidade de interpretar de modo mais competente constitui bem valioso de aplicação em toda e qualquer área de atuação. Os membros fundadores da Academia dedicaram-se a formalizar a concepção e a articular o projeto de sua divulgação. A exploração de suas potencialidades e a produção de produtos dedicados a públicos específicos são possibilidades oferecidas aos intelectuais que se habilitarem a operar a perspectiva e que, naturalmente, vão usufruir dos resultados financeiros relativos aos direitos autorais. A título de exemplo, arrolemos três nichos de produtos dotados de grande potencial de mercado.

Reorganização mental – O modo contemporâneo de pensar, focado no curso da história, na qual se destaca sobretudo os conflitos pessoais e coletivos que se sucedem sem solução, bem como a denúncia de valores tradicionais e as tentativas de se universalizar valores de minorias, além da própria denúncia da racionalidade e do advento de teses de pós-verdade, produziram contingentes de pessoas desiludidas, descrentes e confusas, literalmente perdidas no mundo. Para tais pessoas, uma cosmovisão que resgate a admiração pela genial inteligência que confere ordem ao universo e situa a espécie humana como obra destacada da natureza, com papel relevante no processo de complexificação universal, potencializa que as pessoas possam situar-se harmonicamente no seio da natureza e possam aproveitar melhor as possibilidades oferecidas. Como transformar seres mentalmente perdidos em seres harmonicamente situados no mundo? Divã filosófico?

Pedagogia de ensino – Platão, que registrou essa perspectiva na Grécia Clássica, recomendava que a formação do homem pleno deveria começar na infância e estender-se até a maturidade. Se a concepção permite o uso metódico e competente da razão – algo útil para todos – e constata-se que adultos enfrentam grandes dificuldades para mudar de paradigma, que tipo de pedagogia permitiria que alunos dos diferentes estágios do ensino regular fossem iniciados na perspectiva, de sorte a se formarem, desde cedo, como seres conscientes e harmonizados com a natureza, consigo mesmos e com o seu mundo? Como converter essa sutil concepção metafísica, baseada em lógica, matemática e geometria, avançadas, em disciplina ao alcance de crianças de diferentes idades?

Espiritualidade racional – A perspectiva metafísica exige um princípio primeiro, fonte de tudo o que existe e que, embora seja absolutamente indeterminado, resgata nosso contato com o sagrado, entendido este como sendo a inteligência que ordena o mundo em cosmos racional, plenamente organizado. Nessa perspectiva, não se pode predicar o criador, mas é possível entender e maravilhar-se com a obra. Dado que a perspectiva resgata as instâncias não materiais dos fenômenos, em particular o ser e o espírito que energizam tudo e produzem a complexidade factual, fica aberta a possibilidade de um novo padrão de espiritualidade com amparo racional a ser comungado e festejado por todos?

Esses exemplos indicam temas gerais dentro dos quais, potencialmente, inúmeros produtos de conhecimentos dotados de valor podem ser plasmados. O objetivo deste adendo é apenas mostrar que o projeto envolve enormes potencialidades profissionais que alargam o universo de trabalho e de sustento de pessoas formadas em filosofia e em ciências humanas em geral. A própria ciência moderna se desenvolve no sentido de requerer crescente inteligência, inclusive artificial, de sorte que a Academia, ao colocar-se como promotora do uso metódico, completo e competente da razão, inscreve-se como indutora de possível nova indústria de formação de homens capazes de capitalizar as melhores potencialidades ao seu dispor. Uma indústria que, virtualmente, tende a constituir-se, no futuro, em um dos principais empreendimentos produtivos da sociedade.