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A ordem

Rubi Rodrigues - 26/02/2019

Cosmos é a palavra com a qual os gregos clássicos indicavam o que, hoje, designamos universo. A modernidade, com seu espírito juvenil, sua superficialidade e seu descaso da intuição, já não consegue perceber certas sutilezas e, alegremente, vai “modernizando”, pensando que apenas troca palavras. Entretanto, a palavra universo privilegia o tamanho e a grandeza do mundo, enquanto cosmos destaca o seu caráter organizado: é cosmos por tratar-se de um universo organizado. E veja-se que o grego clássico apenas podia intuir e deduzir que a realidade se estruturava segundo os ditames das matemáticas. Hoje, isso está cientificamente provado nas leituras que telescópios fazem de galáxias situadas a dezenas de anos-luz de distância. Caso o tecido universal não fosse precisamente organizado, tais leituras seriam impossíveis. Essa diferença entre cosmos e universo expressa a diferença dos “espíritos do tempo” vigente nas duas ocasiões. O espírito grego colocava-se altivo e determinado diante do desafio de entender a ordem universal que tudo regia. Com os recursos que detinha, criou um panteão de deuses para designar as forças cósmicas identificadas e, assim, especular como elas interagiam e determinavam o curso das coisas e o destino dos homens. O homem moderno, hipnotizado por uma ciência da matéria e esquecido da sua dependência para com os deuses, limita-se a contemplar o cotidiano e relega a inquisição sobre o universo a especialistas de astrofísica. O homem comum raramente olha para as estrelas, o grego comungava diariamente com os deuses. Aqui, neste trabalho, tentaremos deixar que o espírito grego clássico inquisidor da ordem cósmica inunde-nos e, retomando a questão grega original sobre a ordem do universo e preservando as balizas das ciências modernas, diga-nos qual visão de mundo essa intimidade com os deuses permite descortinar. Limitar-me-ei a colocar a tese de partida que afirma que o universo possui ordem e tentarei, a partir dela, desdobrar possíveis sentenças derivadas que sejam, lógica, geométrica e matematicamente, sancionadas. No fechamento, tentarei situar a concepção, no âmbito das filosofias pós-kantianas, com a intenção expressa de, liminarmente, evitar que seja rotulada de realista ou idealista.

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